De quem é a culpa?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

SOBRE O TEU GOSTO

(Trilha sonora: Bob Dylan, Belchior, Led Zeppelin)

Da primeira vez que te encontrei
eu ainda não conhecia o teu gosto.
Tu eras música, aproximação,
embriaguez e esquecimento.
Tinhas pés ágeis, e decisão.
Mas, ainda da primeira vez,
teu gosto veio como revelação:
gosto despretensioso de liberdade,
de risco e de inusitado, gosto
de pura juventude,
de fruta madura ainda segura ao galho,
gosto de maçã e tabaco,
de pão e de pólvora,
de água salgada, de algodão.

E, daquela vez, teu gosto me acompanhou
pelas ruas da cidade,
sem nunca sair de mim...
Quando finalmente deixou minha boca
foi para virar memória
que viveu no que eu tenho
de mais profundo: minha pele.

Da segunda vez, tu já tinhas
gosto de expectativa,
que, logo, se converteu
em gosto de especiarias:
cravo, canela, açafrão, pimenta do reino.
E tu já tinhas gosto de café, gosto de moura
que seduziu portugueses e espanhóis,
gosto de Andaluzia, temor dos Reis Católicos!

Já da terceira vez, tu viestes
com o gosto das manchas solares
e da penumbra que é tua amiga!
Gosto de mundo nascido das Mil e Uma Noites
e daquilo que Vatsyayana
seria incapaz de conhecer!
Gosto de pele, gosto de completude,
gosto de alegria,
de futuro que se intromete,
gosto alegoria
do amor que se prefigura...

(Renato Gimenes)

3 comentários:

  1. Áspero irmão,
    O que o amor nos guardou pra toda vida, sem dúvida tem um pouco desse poema maravilhoso
    O erótico e o romântico se encontram num subterrâneo incestuoso de palavras.
    Excelente.

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  2. eu não poderia deixar de comentar, apesar de que não não há muito o que falar.
    tão redondinho!!!
    me causou uma profunda emoção,
    uma pluralização de sentimentos
    o gosto ao desgosto.
    Ana Maria

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  3. Um gosto de liberdade,
    de entrega,
    de plenitude,
    de vida e
    de amor tranquilo,
    tranquilo amor!

    Mila

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