De quem é a culpa?

terça-feira, 9 de novembro de 2010

ÀS MARGENS DA BAIA DE JOANNES

(Tilha sonora: Raimundo Fagner e Zeca Baleiro; Simon & Garfunkel; Isaac Brasil)


É noite às margens desta baía...
Não é possível dizer que as águas se encondem;
antes, elas se fundem ao céu, numa escuridão só.
Não há linha do horizonte, nenhum reflexo de lua,
não há mais céu, não há mais água...
Há apenas uma noite, uma mesma densidade,
barcos e viajantes.
Não que o dia apresente essência diferente:
o sol apenas suspende a densidade da noite
revelando um lugar de formas prenhes de indiscernível.
Nada às margens desta baía
permite saber onde algo começa ou termina.

Adentro suas águas: é rio ou mar?
É possível dizer? Mergulho e percebo que não importa:
estas águas são borrão e esfuminho,
dissolução, pura passagem.
Abro a boca e minha língua prova o gosto
de uma vida antes da vida:
Sol, sal, peixes, folhas, pedras, areia
insetos e homens e mágoas,
todos se fundiram nestas águas
todos se tornaram um sangue salobro
anterior a qualquer coisa.

Boio nas águas, respiro...
Penso um momento no dia
em que me fundirei a esta baía.
Mas isto também não importa!
Que minha vida siga o itinerário das águas –
Joannes – Marajó – Atlântico,
Vastidão desembocando em vastidão...

(Renato Gimenes)

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