De quem é a culpa?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Manifesto de poder

(por Marlon Vilhena)

Trilha Sonora: É (Gonzaguinha)


À beira do Pacífico, da esquerda para a direita: Dani Beck, William Suzuki, Marlon Vilhena (foto por Danilo Maretto)

Que possas dizer te amo
como quem diz te amo a um reflexo na poça d’água no final da rua.

Que possas cantar te amo
quando todos se calam em discursos despachados em três vias.

Que possas declamar te amo
se o dia se perdeu em poesias de fuligem e telas de cristal líquido.

Que possas assoviar te amo
após telejornais de maquiagens e desencantos.

Que possas entoar te amo
depois da fome, do medo e da carnificina.

Que possas sussurrar te amo
nos corredores de hospitais até o último suspiro.

Que possas ecoar te amo
dia a dia, peito a peito.

Que possas perceber te amo
num pranto baixo e nos braços que acalentam.

Que possas cultuar te amo
na mão pobre e calejada ao sol.

Que possas partilhar te amo
na gorjeta raquítica do reles prato feito.

Que possas decidir te amo
perante um buquê de nuvens à beira-mar.

Que possas compreender te amo
numa lágrima acenando adeus no embarque.

Que possas enxergar te amo
no desenho pueril da esperança com lápis de cera.

Que possas espalhar te amo
pela solidão que impregna o coração manchado de desilusão.

Que possas concluir te amo
de um abraço à terra molhada cheirando a vida.

Que possas alcançar te amo.
Que possas alcançar te amo.

Um comentário:

  1. Querido amigo, áspero irmão,
    Você se reinventa com uma forma que eu nunca vou entender sem coragem para entender.

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