De quem é a culpa?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

EU PRECISO IR EMBORA...

(Trilha sonora - Lynyrd Skynyrd: "Tuesday's Gone" & "All I Can Do Is Write About It")


Desculpe-me, mas eu preciso ir...
Esta é a frase, esta é a senha:
diante de tanta sanha
por segundos,
pelo encaixe preciso
dos minutos
na agenda,

Ir-se embora
é a única constância.

Não que em última instância
entre um ir-se embora e outro
nada aconteça:
trocam-se palavras
trocam-se abraços
trocam-se comentários
trocam-se beijos
trocam-se brindes
depois do trabalho
às altas horas da madrugada,
ao preço do sono expulso,
ao apreço do sonho excuso
Por ter saído da boca,

Até que a senha retorne:
- Eu preciso ir embora!

E eu vejo você afastar-se,
apequenar-se
ao ganhar distância,
até sumir da vista.
E eu penso
"não insista" -
questão de utilidade,
questão de que é hora
de ir-se embora.

Não que não haja sentido
entre um ir-se embora e outro:
existe você pedindo silêncio
existe você dizendo: "Não diga nada,
por favor!"
existe você declarando;
"Está tudo tão perfeito!"
Existe você questionando:
"quando te vejo outra vez?"
existem, até, alguns minutos
plenos de significado,
grávidos de continuidade,
aguardando o segundo
depois do próximo ir-se embora.

Mas - fato -
existe a suspensão
disso tudo
no retorno da senha:
- Desculpe-me, mas eu preciso ir...

Tudo bem,
eu também tenho que ir embora!
Eu também me despeço
eu também espero
enquanto penso
na precisão
do encaixe dos minutos
na agenda
na anotação
impondo que eu atenda
o próximo compromisso
que eu adie
a queda do próximo grão
de caos,
que eu procrastine
o próximo encontro
enquanto faço coisas importantes
desde meu último
ir embora.

Eu também espero
pelo próximo "oi",
pelo protocolo
da retomada
do que ficou suspenso
pelo último "depois conversamos
sobre como a vida é louca!"

A vida, querida, não é louca:
é só o desencontro que é regra.

É só o tempo para nós
que é faixa estreita
entre a magia de um "oi"
e o realismo
do ir-se embora.

(Renato Gimenes)

Um comentário:

  1. O "Eu preciso ir" sempre pressupõe um retorno. Nunca esqueça!

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