De quem é a culpa?

terça-feira, 30 de outubro de 2012

JANELAS DISCRETAS Nº 13 (de Marcos Salvatore)


Renê enterrava bonecas,

tinha um cemitério e tudo pra elas,

matava e as enterrava depois

 

Marcos caçava vagalumes

Tinha uma rua inteira sem luz, pra isso

Caçava e os guardava depois, pra servir de lamparina orgânica

 

Celi procurava alguém mais cedo, que achasse Drummond quente

Tinha uma oportunidade inteira sacada pra isso

Procurava, mas não encontrou ninguém, bem que eu gostaria

 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

CLUBE PRA QUEM QUER FICAR SOZINHO (de Paulo Emmanuel)

by Paulo Emmanuel



Ontem eu abri o jornal e Li: Clube pra quem quer ficar sozinho. Fiquei curioso. Interessante!
Acho que estou precisando ficar sozinho. Vou ligar pra lá , pra saber como é. Pensei!
_ Alô? É do Clube pra quem quer ficar sozinho?
-E sim, senhor.
Quero saber mais sobre o clube. Pode me informar, por favor?
Claro! É muito simples. O Sr. se inscreve, paga uma taxa e vem pro clube e fica absolutamente sozinho. Temos folders, banners e outdoors com imagens sobre o clube. Acesse a página www.queroficarso.com.br lá o sr. Terá mais informações.
Ok. Obrigado. Fui na internet digitei a URL e lá estava:
Fotos do clube :
Uma linda praia paradisíaca e uma pessoa sentada na areia...sozinha.
Uma grande piscina com trampolim de três andares e uma pessoa dentro...sozinha.
Um lindo restaurante muito luxuoso e uma pessoa sentada à mesa...sozinha.
Um lindo bosque com muitas árvores e outra pessoa apreciando a natureza...sozinha.
Peguei o carro e fui para lá.
A inscrição nada de contato humano, tudo online. Pagando com cartão de crédito e tudo mais.
Rigoroso o clube do sozinho. Depois que você se inscreve, vc não pode mais falar, ficar ou estar perto de alguém. Eles são muito rigorosos com as regras.
Quando cheguei, um portão eletrônico me indicou um local com uns 20 chalés. Cada um afastado do outro.  Entrei e esperei.
A regra er a a seguinte: Eu era o 20º cliente que queria ficar sozinho e só podia entrar um por vez no clube e eu teria que esperar a minha vez. Aí,  entendi do por quê das fotos só com uma pessoa no clube.
Todos os outros clientes esperavam na fila dentro dos chalés

....sozinhos, óbvio.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

JANELAS DISCRETAS Nº 12 (de Marcos Salvatore)


A cidade ontem esteve desbotada e mega-exposta às mesmas impressões.

Tiros, fogos de artifício, barras de ferro, bombas caseiras. Quem apostou em pelo menos uma morte ganhou.

A pregação vazia e interesseira rondou bairros em busca de sexo e gado, eleitores inscritos.

Voltei pra casa com um puta sono, prévia da insônia, depois, sonhei com luzes de da Vinci, um baita som de fudê das frenéticas no rádio, e cheiro de alguém ao lado.

Agora, bom dia... eu acho.

FRESTAS INDISCRETAS Nº 2 (de Haroldo Brandão)




Uma nódoa de esperma

                  Na batina do Padre

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Janelas Discretas Nº 11 (de Marcos Salvatore)

Encontros e desencontros nas esquinas escorregadias de Belém, segundas intenções, lembranças da Radio Cidade e da perda de identidade. Combinação perigosa sujeita a tempestades dialéticas de quinta.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

JANELAS DISCRETAS Nº 9 (de Marcos Salvatore)




Amanheceu em segredo. Lá fora, uma terça de vontade algo débil, quer perder-se no mistério e no ridículo da florada pai d'égua.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

JANELAS DISCRETAS Nº 8 (de Marcos Salvatore)


Existe algo de menstrual numa segunda-feira pós Eleições, pré Cirial. Difícil absorver um corrimento tão contraceptivo. Portanto, sangue frio e sandálias para mais um dia útil.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

FODA-SE (de Millôr Fernandes)




                                                     
O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidadede FODA-SE que elafala. Existe algomais libertáriodo que o conceitode FODA-SE!?  O “foda-se” aumentaminha auto-estima e metorna uma pessoamelhor. Reorganiza as coisas, me liberta. Não quer sair comigo? EntãoFODA-SE!  Vai querer decidiresta merda sozinho mesmo? Então FODA-SE! O direitoao FODA-SE deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nascem por acaso. São recursos extremamenteválidos e criativospara prover nosso vocabulário de expressões quetraduzem com a maiorfidelidade nossosmais fortese genuínos sentimentos. É o povo fazendo sualínguaComoo Latim Vulgar, será esse PortuguêsVulgar quevingará plenamente umdia.

PRA CARALHO” por exemplo. Qual expressãotraduz melhor a idéiade quantidade do quePRA CARALHO”?, tende ao infinito, é quaseuma expressão matemática. A Via Láctea tem estrelas pracaralho, o Sol é quentepra caralho, o Universoé antigo pracaralho, eu gostode cerveja pracaralho, entende? No gênero do “Pra Caralho", masno caso, expressando a mais absoluta negação, esta o famosoNEM FODENDO”.

O “Não, nãonão!” e tampouco o nadaeficaz e sem nenhuma credibilidadeNão, absolutamentenão!” substituem o “NEM FODENDO” é  irretorquível, e liquida o assunto. Te liberta, com a consciênciatranqüila, paraoutras atividades de maior interesseem suavida. Aquelefilho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro parair surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo o definitivo  “Filhinho, presta atenção,  “NEM FODENDO' .

O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar coma turma numa boa e você fecha os olhose volta a curtiro CD do Lupicínio.

Por suavez, o “PORRANENHUMA” atendeu tão plenamente as situaçõesonde nossoego exigia não a definiçãode uma negação, mastambém o justoescárnio contradescarados blefes, que hojeé totalmente impossívelimaginar quepossam viver semele emnosso cotidianoprofissional. Comocomentar a bravatadaquele chefe idiotasenão comum “É PHD  PORRANENHUMA”, ou eleredigiu aquele relatóriosozinho PORRANENHUMA!. O “PORRA NENHUMA” como vocêspodem ver nosprovê sensações de incrívelbem estar interior. É comose estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos “Aspone, Chepone, Repone”, e mais recentementeo “Prepone”, presidente de PORRA NENHUMA.

outros palavrões igualmenteclássicos. Pense na sonoridade de um “PUTA-QUE-PARIU”, faladosassim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diantede uma  notícia irritante qualquer um“PUTA-QUE-O-PARIU!”, dito assim te coloca outra vezem seueixo. Seusneurônios têm o devidotempo e climapara se reorganizar e sacar a atitude que lhepermitirá dar ummerecido troco ouo safar de maioresdores de cabeça.

E o que dizerde nosso famoso“VAI TOMAR NO CU!”? E suamaravilhosa e reforçada derivação “VAI TOMAR NO OLHO DO SEU CU” ? Você imaginou o bem  quealguém faz a sipróprio e aos seusquando, passadoo limite suportável, se dirige ao canalhade seu interlocutore solta : Chega! “VAI TOMAR NO OLHODO SEU CU”.  Pronto, você retomou as rédeasde sua vidae sua auto-estima. Desabotoe a camisa e saia à rua, ventobatendo na face, olharfirme, cabeçaerguida, um deliciososorriso de vitóriae renovado amor-íntimo nos lábios. Arrasadora para uma situação queatingiu o grau máximoimaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, queuma vez proferida insere seu autor em todo um providencialcontexto interiorde alerta e autodefesa. Algo assimcomo quandovocê está dirigindo bêbado, sem documentosdo carro e semcarteira de habilitaçãoe ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando-o parar: O que você fala?
FODEU DE VEZ!

Liberdade, igualdade, fraternidade e  FODA-SE.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O DIA EM QUE PERDI MINHA VÓ NO CÍRIO (de Paulo Emmanuel)



Da série: Cadê minha vó? Jesus maria josé...

Lá pelos idos de 198epouco a minha vó paterna, a vó Dária que morava em Manaus, veio realizar seu sonho de filha de Maria, que era uma vez na vida assistir ao Círio de Nazaré. 
Eu nunca fora muito religioso, e nessa época estava cada vez mais longe das festividades religiosas, mas como minha vó tinha se descambado pra cá com essa intenção. E fui eu e minha irmã mais nova levá-la pra ver a passagem da Santa, nem que fosse de longe. 
Eu disse a ela que era perigoso chegar muito perto, por causa da forte correnteza humana que, em alguns pontos do percurso, virava uma tormenta. Eu já tinha passado por dois percalços e nos dois, quase sucumbi à fé e me desgracei nos pés da multidão. 
A primeira vez foi quando minha mãe disse: - Vamos ver a passagem da santa lá na Pres. Vargas, ali perto da Enasa. Ficamos num canto esperando e quando a onda humana realizou a curva ferozmente, jorrou gente em cima da gente, fomos arrastados e ficamos esmagados na parede do prédio da Importadora e numa luta sobre humana conseguimos sair e escapar pela rua lateral. Em menos de cinco minutos minha camisa amarela nova comprada na Makell virou um trapo. Todo mundo se olhando de olho arregalado e depois minha mãe disse: - Nossa, quase a gente morre!
Passaram-se os anos e um pouco mais velho resolvi esperar a Santa na praça matriz. Calculei mal a minha travessia com a chegada da multidão no CAM em frente ao Cine Nazaré e fui pego por uma tormenta de romeiros que me carregaram uns metros com os pés suspensos e os braços abertos em desespero. Fui salvo, quando passou perto de mim um poste e me agarrei nele. Colei agarrado que não tinha bombeiro que me tirasse dali.
Então, já tinha no currículo vasta experiência dos perigos da massa ciriana pra quem não conhece a sua força. Assim, prudentemente ficamos na esquina da Generalíssimo Deodoro com a José Malcher, olhando a procissão passar. Mas minha vó tomada pela emoção de estar vendo o Círio ao vivo, disse pra minha irmã: 
-Vamos ver um pouquinho mais de perto. 
Eu disse: - vou ficar aqui e esperar. Não vou não. Cuidado! Não vão muito perto! 
E assim sumiram na multidão que andava em direção à Av. Nazaré.
Depois de passado o burburão de gente, minha irmã voltou só e eu perguntei: 
- Cadê a vó? 
Ela disse: - Sumiu na multidão e foi arrastada pela procissão. Ainda percorremos às ruas transversais pra ver se achávamos, mas nada de encontrar a pobre senhora de 70epoucos anos. Depois de muito procurar voltamos pra casa depois de uma hora da tarde, mortos de cansaço.
-Cadê tua vó? Perguntou minha mãe.
- Sumiu no Círio, respondi. -E agora? 

Ligamos pra polícia e denunciamos o desaparecimento de uma vó assim, assado, frito, tudo. E esperamos angustiados.
E deu três, deu quatro, deu cinco, deu seis, deu sete, deu oito horas da noite e nada de minha vó retornar. 
De repente ouvimos um gritinho fraco. Alguém disse: - É a vovó! 
Morávamos num prédio na Av. Almirante Barroso que tinha quatro andares. Ao lado tinha outro, exatamente igual, também de quatro andares. O nosso, o edifício Walena tinha o portão de entrada pela Av. Almirante Barroso e o outro pela Alameda Bancrévea. Nisso meu irmão desceu e ouviu o grito mais forte da minha vó. Quando ele chegou na garagem e ouviu novamente o grito, subiu um muro, não muito alto que separava os dois prédios e viu minha vó do outro lado, segundo ele branca como um fantasma. Saiu correndo do nosso prédio, deu a volta e entrou no outro e quando lá chegou ela desapareceu!
Ele voltou branco dizendo que tinha visto o fantasma de nossa vó.
Então eu disse: - Deixa que eu vou ver isso. E corri pra baixo.
Quando cheguei no prédio ao lado, perguntei pra um morador se ele tinha visto uma senhora idosa assim, assada e coisa e tal. Logo, olhamos pra escada e lá vinha uma moradora trazendo minha vó segurando seu braço e a bichinha mais morta do que viva. Coitada.
Fiquei aliviado por ver que ela estava bem. Tremendo, me contou a história de como voltara pra casa. Quando se viu só ficou desesperada e pra explicar aos policiais aonde ela morava foi um problema porque ela não conhecia a cidade, nem tinha o nosso número do telefone. Mas acabou chegando, não sabemos como. A levei pra casa e depois do susto, tudo ficou bem.
Anos depois ela se converteu ao evangelismo e faleceu pertencendo à Assembléia de Deus.
Muito justo, pensei.