De quem é a culpa?

sábado, 27 de novembro de 2010

O sopro do lobo dos porcos (versão Vilhena)

(por Marlon Vilhena)

Trilha Sonora: Cálice (Chico Buarque)


Diga que sim, capitão.

Senhor, sim, senhor.

Nagasaki e Hiroshima, genocídio pela paz mundial. Veja só, a paz mundial. Sopro de deus a varrer certezas para baixo da miséria humana.

Ghandi da Índia e de Nobel, Mahatma de bondade e de religião, estralhaçado por ideias de cadaverina
                                        trinitrotolueno
                                        verdade em fedentina

Um clique e seja feita a vossa vontade, amém.

Clique.

Senhor, sim, senhor.

Guevara de ideologias, Che de revoluções, soldado da nova ordem. Pega da tua arma para fazer o bem, elevar Fidel e fazer o bem, sangrar e fazer sangrar e fazer o bem, torturar e sequestrar e fazer o bem. Guerrilhas, força e coragem, depois morte. Depois volta. Ressuscita em juventudes e camisetas rubras de ternura dura. Não a perdeste: ela é que se vendeu.

Enquanto isso, um tango argentino num cabaré argentino ao som de Perfidia, de Gardel argentino.

Alguém fala de flores e de canhões, e já a nova ordem ganhou novo apelido. DOI-CODI: deportação: estado de direito sem direitos: patriotismo engomadinho. Um violão quebrado na sarjeta, sob o vendaval que se aproxima dos arranha-céus e das prisões. Olhos vermelhos e cegos. Unhas extirpadas, dedos esmagados.

Pau-de-arara é quem manda nessa joça.

Fala.

Não falo.

Dá-lhe porrada.

Senhor, sim, senhor.

Diga que sim, subversivo.

Não.

Arranca-lhe a humanidade fora.

Senhor, sim, senhor.

Sopra-lhe a dignidade longe.

Senhor, sim, senhor.

Mais força, mais força.

Senhor, sim, senhor.

Lobo ou porco, tanto faz. É a mesma coisa.
                                       É o mesmo filme.
                                       É a mesma joça.

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