De quem é a culpa?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

MARIA UNA E MÚLTIPLA

(Trilha Sonora: Alceu Valença; Procol Harum; Joni Mitchell)



Você nem precisa de estatísticas
para me impressionar...

Não precisa dos números
da soma total
dos carros emplacados,

nem das percentagens
da produtividade implacável
mantida à custa
de tantos remédios
e de tanta ciência,

nem mesmo do lamento diante
da falta de tempo e dos desencontros
pelos pontos de ônibus da cidade.

Você só precisa
de um par de olhos
e da leveza
do teu sorriso
demonstrando
que tudo está bem
mesmo quando não está!

Você só precisa
do teu nome
e das situações
que ele encerra:

Quando surgires repentinamente
diante dos meus olhos
serás Maria Aparecida,

e quando fores inevitavelmente
machucada pelo mundo
serás Maria das Dores;

Quando me abraçares forte
e tua respiração ficar curta
Serás Maria dos Prazeres!

E quando teus olhos brilharem
diante das telas de cinema
serás Maria das Paixões!

E se te arrependeres
de qualquer descaminho
serás Maria Madalena,

E quando te irritares e lutares
por aquilo que é de teu direito
serás Maria Bonita,

E quando te importares
com o cansaço estampado em meu rosto,
serás Maria do Socorro.

Você só precisa ser
o que já és:
Maria jogo
do uno e do múltiplo
das identidades calcadas
na arqueologia do teu nome.

Você nem precisa de estatísticas
para me impressionar!


(Para todas as Marias e mais uma)

(Renato Gimenes)

Um comentário:

  1. Renato é um romântico, um pierrot, um boêmio de rosa no peito.
    Suas palavras e imagens parecem ter sido extraídas de um blues antigo, sem estribilho, cantado por Dona Ivone Lara, ou mesmo de um chorinho cantando por Etta James.

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