De quem é a culpa?

terça-feira, 30 de abril de 2013

2014, A COPA QUE O BRASIL JÁ PERDEU (de Haroldo Brandão)

by Arthur Fellig Weegee

O Brasil será o grande derrotado na Copa do Mundo de 2014. Esqueçam esquemas táticos, análises técnicas, convocações, gols ou arbitragem. A derrota não virá numa zebra nas oitavas de final contra a Bélgica, num duelo épico de quartas contra a Itália, numa semifinal angustiante contra a Espanha ou num Maracanazzo reloaded contra a Argentina.


A derrota já veio. O Brasil perdeu a Copa de 2014. 



Marin, Ronaldo e Valcke: trio está na cabeça da 'operação Copa do Mundo'



O Brasil perdeu, leiam bem. O que vai acontecer com a seleção brasileira é outra história. Uma história que muda pouco o que realmente importa. O Brasil perdeu a Copa de 2014. 



Um evento como a Copa é a chance de um país mudar, se redescobrir, sanar problemas e construir soluções, mesmo que seja sob a fajutíssima desculpa de "o que o mundo vai pensar da gente se não estiver tudo dando certo?". Que seja, dane-se a pequenez da desculpa, desde que sejam construídas estradas, linhas de metrô, corredores de ônibus, elevadores, hotéis, e, vá lá, até um ou outro estádio.



Vipcomm



O resultado do time de Felipão pouco importa: o Brasil já perdeu
A Copa do Mundo é, para os tempos de hoje, o que foram as tais "Exposições Mundiais" no século 19. Era preciso se arrumar para receber visitas em casa. 



Mas o Brasil hoje corre para retocar a maquiagem, empurra a vassouradas a sujeira para debaixo do tapete, tranca os cachorros pulguentos na despensa e manda a criançada dormir mais cedo, porque sabe como é criança quando chega visita, desanda a falar cada coisa...



Faltam pouco menos de dois meses para a Copa das Confederações, e o estádio da final não está pronto. Aquele estádio na Zona Norte do Rio, que foi erguido no lugar do Maracanã ao preço mirabolante de 1 bilhão de reais; e que terá de ser reformado para a Olimpíada. 



(Aqui, um parêntese: todas as reportagens sobre estádios da Copa têm a obrigação de falar quanto custou e quem financiou a obra; isso é utilidade pública, antes de mais nada).



Faltam menos de dois meses para a Copa das Confederações e nenhum aeroporto teve reformas significativas concluídas. Pouco mais de um ano para a Copa do Mundo e os taxistas que falam inglês continuam a ser uma raridade, as placas de trânsito seguem indecifráveis para estrangeiros, os hotéis e vias públicas não vão dar conta do recado, obras de mobilidade urbana de Manaus, Brasília e São Paulo não ficarão prontas - umas foram canceladas, outras postergadas, todas custaram irreversíveis milhões e não é difícil adivinhar quem pagou a conta.



O 'novo Maracanã': para 2016, mais reformas
A um ano e dois meses do começo da Copa, o presidente do Comitê Organizador Local está cercado por denúncias, e não é para menos. José Maria Marin, o homem que gere a operação Copa do Mundo no Brasil, passou seus mandatos de deputado bajulando delegados ligados às torturas da ditadura, superfaturou a sede da CBF, negociou apoio na aprovação de contas da confederação dando cheques a seus eleitores. 



Enquanto isso, o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, diz que a organização da Copa do Mundo no Brasil seria mais fácil se o país fosse menos democrático e tivesse menos esferas de governo, legal é a Rússia, que tem um poder centralizado e menos palpiteiros. 



A organização da Copa do Mundo seria mais fácil, monsieur Valcke, se ela estivesse nas mãos de gente diferente. 



De gente que não estivesse interessada apenas em sugar dinheiro do país com o benefício de isenção de impostos. A organização da Copa do Mundo seria mais fácil se ela fosse feita para, de fato, deixar o país com algumas pequenas vitórias em áreas que vão muito além do campo de jogo. 



O Brasil de Felipão, de Neymar, de Ronaldinho ou Kaká, o Brasil pentacampeão, seja com volantes classudos ou brucutus, pode ganhar ou perder a Copa de 2014. 



O Brasil de 200 milhões de pessoas, aquele que acordará no dia 14 de julho de 2014 para trabalhar, este sairá da Copa derrotado. Qualquer que seja o resultado da final.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

O PESADO CONSEGUIA VOAR (de Haroldo Brandão)



Febrilmente! Bela palavra. Tinha 14 e emprestei ao Roosevelt, que ainda não era o Bala do Stress (e mais recente do Zona Rural), um LP do Proco Harum e ele me emprestou o vinil Led II, havia uma tarefa doméstica que executaria tipo limpeza do quarto, pois bem a fiz ao som de Living loving, Heartbreack, Whole Lotta Love, Ramble on,...enfim o baixo pesado e dançante do John Paul, a batera mais pesada ouvida até então, os solos de Page. Chapado com tanto som, saí dali para conhecer tudo do Led, era 1975, sem dúvida o pesado conseguia voar. É uma das minhas bandas prediletas, caro Elias, sem discussão, foram tempos muito bons em termos de produção rockeira. Quanto ao Gênesis prefiro "Selling England by the pound" de 1972 com Peter Gabriel no comando, pq? A Trick of the tail ainda tem ecos da enorme influência e domínio arístico de Peter, Collins foi retirado da bateria e assumiu os vocais mas para quem conhece a obra do Gênesis sabe o que são os 4 primeiros discos da banda com Gabriel e a dificuldade da banda em seguir criativamente sem mudar o rumo traçado pelo antigo líder, tanto que o som enveredou pelo pop e em carreira solo Phil flertou com a disco music e vendeu milhões de vinis. Depois de A trick.. nada brilhante foi feito.
Meu amigo até os tijolos vermelhos de Londres sabem o impacto que os 4 anos de reinado absoluto de Jimi Hendrix exerceram sobre Jeff Beck, Eric Clapton, Pete Townshend e Jimi Page para ficarmos nestes 4 guitas britânicos, me desculpe mas é exagero seu afirmar que dos 2 Jimis, Page é o melhor, os 2 estão no alto da Pirâmide, são explêndidos, geniais guitarristas mas, Hendrix é o cume, por toda a contribuição que deu a guitarra, a dominando totalmente redirecionando-a, desconstruindo canções de outros compositores como Lennon e Dylan e a reconstruindo ao seu modo. Os fabricantes de guitarra e engenheiros faziam questão de tentar traduzir tecnicamnete o manancial de idéias sonoras que estavam na mente do papa dos guitarristas, na sonoridade, os adereços como pedal wha wha, ninguém tocou como Jimi, ouça o solo na composição de Dylan "All along the watchtower" ou em "Gipsy Eyes! Enfim Hendrix é o Pelé da guitarra, Page é o Maradona.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

JANELAS DISCRETAS Nº 19 (de Marcos Salvatore)



Me equilibro sobre as guias
Procurando não pensar
Ah, um cigarro, agora

Já cruzei toda esta cela
Estou preso, estamos
Por insuficiência de provas de amor (?)

Arrogância e cabecismo não se harmonizam facilmente
É o poste mijando no cachorro

Nem mesmo a vaidade da música climática
Que faz o esfregar dos meus pentelhos
Roçando no seu cu já me convence

A dirigir meus espantos mágicos
Em sua direção

SONETO DE DESPEDIDA (de Vinícius de Moraes)



Uma lua no céu apareceu
Cheia e branca; foi quando, emocionada
A mulher a meu lado estremeceu
E se entregou sem que eu dissesse nada.

Larguei-as pela jovem madrugada
Ambas cheias e brancas e sem véu
Perdida uma, a outra abandonada
Uma nua na terra, outra no céu.

Mas não partira delas; a mais louca
Apaixonou-me o pensamento; dei-o
Feliz - eu de amor pouco e vida pouca

Mas que tinha deixado em meu enleio
Um sorriso de carne em sua boca
Uma gota de leite no seu seio.



O AMOR ACABA - (trechos de Paulo Mendes Campos)

by a. r.


O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio: acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente ao meio do cigarro que ela atira e esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; ...o amor acaba mecanicamente, no  elevador, como se lhe faltasse energia, dentro de casa o amor pode acabar, quando a alma se habitua as províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; no sábado depois de três goles de gim à beira da piscina; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus; no inverno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brazília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York ... às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão; às vezes o amor acaba como se fosse melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o alcool; de manhã, de tarde, de noite; na primavera, no abuso do verão; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
 
PMC
(16 de maio de 1964)

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A IDADE DA FEBRE (de Haroldo Brandão)



PAREI PARA ASSISTIR NOITE DESSAS a primeira hora, os primeiros 60 minutos da obra glauberiana "A idade da Terra", junto com "Deus e o diabo na terra do sol" e "Terra em transe" formam o melhor de Glauber Rocha, um sujeito, um intelectual dos mais polêmicos, pensador febril do terceiro mundo, do Brasil, do canto que nos coube. Longe de ser fácil, digerível, por isto mesmo é o tipo de filme que se ama ou odeia, uma trip, sim a primeira parte em que são apresentados os 4 cristos (Tarcísio Meira, Jece valadão, Antônio Pitanga e Geraldo Del Rey) são quase 40 minutos de sonoplastia através de uma trilha sonora (percussão, samba, folclore, nordeste) com a cara dele Glauber, sons de muitos Brasis, câmera nervosa inquieta e imagens delirantes, o sol se pondo no planalto central do país, o nascimento de um povo, o desejo de contemplar, a ânsia de dar conta de um todo com a limitação dp plano da tela, imagens e música, imagens e música, de uma forma quase alucinante, como um imenso clipe alucinado, Glauber era um angustiado para entender, captar e dar conta de toda a realidade sócio-antropológica que tem como resultado o Homem brasileiro, o sujeito humano que povoaria o novo mundo, a América do Sul com seus caudilhos, com seus milhões de índios mortos, o grande quintal estadunidense. Glauber era místico e profético. Terra em Transe e Deus e o Diabo tem uma certa linearidade, não espere isso da Idade. 

O primeiro diálogo após 40 minutos de imagens delirantes traz um anti-ator, na verdade, o analista político Carlos Castelo Branco tomando wisk com A.Pitanga, e falando da contra-revolução em 1964, interessante ele não usar o têrmo golpe militar, chegando até a tentativa de golpe dentro do golpe liderada pelo General Silvio Frota, "o povo vai mal", impressionante a atualidade de problemas que há 40 anos não mudam, ontem a coluna de Elias Ribeiro Pinto, foi um soco no estômago em alguns manos regionais, uma catarse, um grito dizendo estou de saco cheio, é Elias nossa geração está passando e a bandeira ou a cruz alguém que se habilite a segurar, queria a tranquilidade de uma tarde na beira de um rio, na curva enquanto a chuva cai: tempo Glauber.
Voltarei a comentar mas fica aqui um petisco e um convite a que todos que possam revejam esta obra prima, ainda estou extasiado com a primeira parte, Glauber foi único enquanto cineasta, respeitado por gente como o escritor Alberto Moravia e o cineasta Antonioni, discordou, deu a cara a tapa, ironizou o status quo, xingou e foi xingado e, segundo alguns foi um gênio da raça, é o meu colírio Glauberiano, em meio a tanta banalidade.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

MORTE NO BAR DO MATIAS (de Haroldo Brandão)




As cabeças de segunda-feira são pesadas, pessimistas, arrependidas e ressacadas ainda mais quando teu trabalho não te satisfaz: é melhor amanhecer doente nas terríveis segundas. Ruim é ter que adoecer, gripar, pegar uma virose, uma caganeira na quinta feira, véspera da melhor noite da semana: a noite de sexta-feira. O carro desliza tranquilo no início da noite na Av. Generalissimo, a primeira dose no Zolt e em seguida já pelas 10, o agito cultural no Café Imaginário na alameda do Santa Maria, pub moderno, gente madura (?), multicultural e intelectual, com o charme de apenas um banheiro para homem e mulher, revistas de arte espalhadas, jazz nas caixas, Take five, Chet Baker, Arrigo e Patif Band, eu e Sérgio levamos um King Crimson, a fossa de Betânia, a gerência sem direção do anti-empresário Simões e o fiel (nem sempre) escudeiro Paulo Lezeira, todos os viúvos do 3 X 4 e do Bar da Mamá, o nostálgico Nativo, se redescobrindo 15 anos mais velhos: maravilha. Eram 00:15 h quando saí, subi a alameda na velha máquina e dobrei na Gentil Bittencourt, entrei na 14 de abril e novamente dobrei na Av.Gov. José Malcher parando no bar do Matias ou Bactéria’s Bar ou Putrefato’s Bar, aquele em que ao ir ao imundo banheiro cujo único vaso era um bidê, receava-se que um germe pulasse no pinto do sujeito, mulheres que prezavam sua saúde não sentavam ali, enfim ia-se pelo atendimento personalizado da gerente Jô, que dava porrada em maus pagadores (por causa de R$0,10), ia-se por conta da já citada falta de higiene, também nos copos, pelo tira gosto (pipoca Pantera) e pelos 300 ou mais CD’s de rock de todas as décadas,discotecados pelo ex dj da Boate Maloca (aquela da Praça Kennedy atual African) e no meu caso, pelo wisk mais vagabundo, enfim, caminho de casa, parada obrigatória.
Várias versões houveram ( a dos jornais foi a mais mentirosa) sobre o que vou lhes relatar, eu estava lá, não estavam Teko, nem Charles, nem Marco, nem Tânia, nem vários outros que se arvoraram a inventar uma estória. A história foi a seguinte: cheguei e me dirigi direto ao balcão, já instalado bebendo cerveja, um médico rockeiro, plantonista do PSM e um baixinho falando alto (todo baixinho é assim, voz alta pra compensar o tamanho). Ao encostar aquele bafo horrível no meu ouvido gritou: “tu és metido, pensas que é o tal..” fiz que não ouvi (como?),  olhei o relógio: eram zero e vinte e cinco. E o baixinho continuou: “tô armado e a fim de dar uns tiros..”. Eu não duvidei e senti o clima pesado. Do outro lado do balcão Matias me olha e com a sombracelha transmite sua preocupação, no salão apenas uma mesa ocupada, lá fora um casal na calçada tomando cerveja:  tensão no ar, o baixinho estava com a macaca. Passa para a calçada e chuta as garrafas vazias do casal. Frequentador de confiança no bar Matias pede: “Haroldo olha o caixa que eu vou lá acalmar esse doido”. Eu e o médico ficamos. Surdo aos apelos diplomáticos de Matias continua provocando o casal, rápido quando vimos Matias já estava enroscado no baixinho e o imobilizou, todo mundo em volta, Matias pede para o medico chamar a polícia pelo celular. Então eu disse “Matias o cara está dominado, afrouxa”. A galera: “nada, tá se fazendo de desmaiado”. O médico falou: “nada, continua apertando”. Em menos de 5 minutos chegou a polícia. Matias soltou e o cara nem se mexeu, não havia revolver: gorozado morreu asfixiado. A polícia chegou para prender um desordeiro e levou preso um pai de família. Olhei o relógio, eram zero e cincoenta. É estranho para mim até hoje ter presenciado uma morte nestas condições. A vida é assim: era um estranho, minutos antes seu bafo e sua voz ecoavam no meu ouvido, estava vivo, agora...
Na caixa tocava A day in the life.A morte no bar do Matias: As cabeças de segunda-feira são pesadas, pessimistas, arrependidas e ressacadas ainda mais quando teu trabalho não te satisfaz: é melhor amanhecer doente nas terríveis segundas. Ruim é ter que adoecer, gripar, pegar uma virose, uma caganeira na quinta feira, véspera da melhor noite da semana: a noite de sexta-feira. O carro desliza tranquilo no início da noite na Av. Generalissimo, a primeira dose no Zolt e em seguida já pelas 10, o agito cultural no Café Imaginário na alameda do Santa Maria, pub moderno, gente madura (?), multicultural e intelectual, com o charme de apenas um banheiro para homem e mulher, revistas de arte espalhadas, jazz nas caixas, Take five, Chet Baker, Arrigo e Patif Band, eu e Sérgio levamos um King Crimson, a fossa de Betânia, a gerência sem direção do anti-empresário Simões e o fiel (nem sempre) escudeiro Paulo Lezeira, todos os viúvos do 3 X 4 e do Bar da Mamá, o nostálgico Nativo, se redescobrindo 15 anos mais velhos: maravilha. Eram 00:15 h quando saí, subi a alameda na velha máquina e dobrei na Gentil Bittencourt, entrei na 14 de abril e novamente dobrei na Av.Gov. José Malcher parando no bar do Matias ou Bactéria’s Bar ou Putrefato’s Bar, aquele em que ao ir ao imundo banheiro cujo único vaso era um bidê, receava-se que um germe pulasse no pinto do sujeito, mulheres que prezavam sua saúde não sentavam ali, enfim ia-se pelo atendimento personalizado da gerente Jô, que dava porrada em maus pagadores (por causa de R$0,10), ia-se por conta da já citada falta de higiene, também nos copos, pelo tira gosto (pipoca Pantera) e pelos 300 ou mais CD’s de rock de todas as décadas,discotecados pelo ex dj da Boate Maloca (aquela da Praça Kennedy atual African) e no meu caso, pelo wisk mais vagabundo, enfim, caminho de casa, parada obrigatória.
Várias versões houveram ( a dos jornais foi a mais mentirosa) sobre o que vou lhes relatar, eu estava lá, não estavam Teko, nem Charles, nem Marco, nem Tânia, nem vários outros que se arvoraram a inventar uma estória. A história foi a seguinte: cheguei e me dirigi direto ao balcão, já instalado bebendo cerveja, um médico rockeiro, plantonista do PSM e um baixinho falando alto (todo baixinho é assim, voz alta pra compensar o tamanho). Ao encostar aquele bafo horrível no meu ouvido gritou: “tu és metido, pensas que é o tal..” fiz que não ouvi (como?),  olhei o relógio: eram zero e vinte e cinco. E o baixinho continuou: “tô armado e a fim de dar uns tiros..”. Eu não duvidei e senti o clima pesado. Do outro lado do balcão Matias me olha e com a sombracelha transmite sua preocupação, no salão apenas uma mesa ocupada, lá fora um casal na calçada tomando cerveja:  tensão no ar, o baixinho estava com a macaca. Passa para a calçada e chuta as garrafas vazias do casal. Frequentador de confiança no bar Matias pede: “Haroldo olha o caixa que eu vou lá acalmar esse doido”. Eu e o médico ficamos. Surdo aos apelos diplomáticos de Matias continua provocando o casal, rápido quando vimos Matias já estava enroscado no baixinho e o imobilizou, todo mundo em volta, Matias pede para o medico chamar a polícia pelo celular. Então eu disse “Matias o cara está dominado, afrouxa”. A galera: “nada, tá se fazendo de desmaiado”. O médico falou: “nada, continua apertando”. Em menos de 5 minutos chegou a polícia. Matias soltou e o cara nem se mexeu, não havia revolver: gorozado morreu asfixiado. A polícia chegou para prender um desordeiro e levou preso um pai de família. Olhei o relógio, eram zero e cincoenta. É estranho para mim até hoje ter presenciado uma morte nestas condições. A vida é assim: era um estranho, minutos antes seu bafo e sua voz ecoavam no meu ouvido, estava vivo, agora...
Na caixa tocava A day in the life.