De quem é a culpa?

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

ARTE (de Haroldo Brandão)

Robert Mapplethorpe & Patti Smith - by judy Linns



ARTE

(in the wall)



Metaforizar o social


Pintar a realidade

Falar a verdade
(ou o avêsso)

COMO?


Não estou então andando em gelo fino?

O HOMEM QUE TEMIA VAGINAS* (de Marquês de Sade)



Um homem gordo de uns quarenta e cinco anos, baixo, parrudo, mas sadio e vigoroso. Como ainda não tinha visto um homem com gostos parecidos, meu primeiro reflexo, assim que fiquei com ele, foi o de levantar minhas saias até o umbigo. Um cão ao qual se mostra um bastão não faria cara mais feia: "Ei! Ventre de Deus, menina, virai essa boceta para lá, por favor". Enquanto isso, rebaixou minhas saias com mais pressa do que quando as levantara. “Essas putinhas”, continuou mau-humorado, “só tem boceta para nos mostrar! Por vossa causa, talvez eu não consiga esporrar esta noite... antes de conseguir tirar essa boceta infame da cabeça”. E, dizendo isto, virou-me e levantou metodicamente meu saiote por trás. Nessa postura, conduziu-me, sempre segurando minhas saias levantadas; e para ver os movimentos de minha bunda enquanto eu andava, mandou que me aproximasse da cama, sobre a qual me deitou de bruços. Examinou então meu traseiro com a mais escrupulosa atenção, sempre tapando com uma mão a vista de minha boceta que ele parecia temer mais que o fogo.


Finalmente, após me advertir para dissimular o quanto pudesse essa parte indigne (como disse), mexeu com as duas mãos por muito tempo e com lubricidade no meu traseiro. Ele o abria, o fechava, às vezes levava nele sua boca, e eu a senti até, uma vez ou duas, diretamente encostada no buraco; mas ele ainda não se tocava, nada indicava isso. Sentindo-se, no entanto, aparentemente pressionado, preparou-se para o desfecho de sua operação. “Deitai-vos no chão”, me disse, jogando nele algumas almofadas, “aqui, sim, assim... Com as pernas bem abertas, a bunda ligeiramente levantada e o buraco o mais aberto possível. Assim, ótimo!”, continuou vendo minha docilidade. E então, pegando um banquinho, ele o colocou entre minhas pernas e veio sentar em cima, de modo que seu pau, que agora sacara dos calções e sacudia, ficasse por assim dizer na altura do buraco que venerava. Então seus movimentos tornaram-se mais rápidos. Com uma mão ele se masturbava, com a outra, abria minhas nádegas, e alguns elogios temperados com muitos xingamentos compunham seu discurso: “Ah! santo Deus; que belas nádegas”, exclamava, “que buraco lindo, ah... como vou inundá-lo!” E cumpriu sua promessa. Senti-me encharcada; o libertino parecia aniquilado por seu êxtase. Como é verdade que o culto oferecido a esse templo sempre tem mas ardor do que aqueles que arde sobre o outro!

* História tirada dos Cento e Vinte Dias de Sodoma, com título meu.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

PERDEDOR? (de Haroldo Brandão)




(ao som de "Ripples" do Gênesis, com Phil Collins no vocal. Vinil " A trick of the tail")

Feito um perdedor te deixei na tua casa e segui rumo ao Mauro, a turma estava lá, era quase uma da manhã, cedo para os meus padrões, me receberam alegremente (não no sentido gay), tiramos fotos e em seguida me isolei em uma cadeira ao ar livre, na parte do asfalto, acabrunhado pensei: perdeu campeão. Pedi uma long neck daí, as fotos ("inédito: Harold tomando cerveja? vamos registrar") click do Maurício, click do Matias Lemos, pose com Salvatore, Fábio Castro e Bud, cerveja pra turma, então me isolei de novo, um punk pediu para eu pagar uma cerveja, o atendi e despachei, só queria ficar sozinho com meus secretos segredos. Pedi a segunda long neck, fui ao balcão, me distraí com a Lu e  eram duas horas quando adentrei no apê. Boa noite querida! As cervejas me relaxaram e eu estava em meu habitat, em mi casa, foi deitar e bateu a energia, corpos se encostaram, fizemos um belo sexo, o bastante para chegarmos ao orgasmo, antes de desmaiar pensei: "que ironia". Foi aí que o grilo bateu: por quê?

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

JANELAS DISCRETAS Nº 16 (de Marcos Salvatore)

Nada descreve o horror de Ageu Pazoud e o meu quando passamos pelo Portal, ontem à noite, e nos deparamos com os inéditos tambores evangélicos do espaço, furibundos em roda de desejo operário. Os bigodes peruanos da Tiazinha me desidratavam de desejo insuspeito: - "Voouu reezaar poor vooêê. Quaal éé´oo seeuu noomee?". Não passava uma agulha. Ruim era o medo de nos cercarem e gritarem: - "Pega". O Ageu tentava não gaguejar na esperança de convencer um garotinho inquisidor que insistia nebulosamente que ele aceitasse Jesus mais uma vez "só pra conferir se era verdade". Antes de sairmos correndo dali, a Tia pergunta o meu nome com a voz mais rouca, queria rezar muito por mim, mas só tenho culhão de responder: - "É Zenaldo".

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

JANELAS DISCRETAS Nº 15 (de Marcos Salvatore)


O cadáver deixado para trás, pelo marido, ou amante, estava intacto. Quando chegamos ao necrotério pude notar uma certa alegria faunesca nos olhos dos médicos-legistas. Realmente ouvi o seguinte cochicho:
- Hoje tem “janta”.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ANSIEDADE NOTURNA (de Marcos Salvatore)

https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTCl9HvkTGF3xwDatSQXEAFIBOZ51jGNgEQW3IFUEMqa6HNMQI3

Tenho muitas tolices
Fungos envenenados
Parasitas que crescem do corpo de insetos famintos e confusos
Depois de os matarem lentamente
Não sem antes serem jogados para baixo, fora do galho e do ninho
Por um dos seus
A queda é incidental, talvez oportuna
Hora de checar as dúvidas
Inconsequências apuradas, mensuradas
Preencher espaços – quem precisa disso?
Quem sabe sobre a vida?
Esta é a minha e o seu rótulo esfarelado está, pelos meus dedos
Devido à umidade da garrafa
Lente de aumento bronzeado, improvisada
Para dar função e textura exagerada de pele suada
Cenas de sexo sem rosto
Sim, eu as tenho e sustento sobrando
Troncos femininos
Costelas em relevo, em antítese
Cinzeiros e xícaras, leite derramado
E o que falta?
Nunca descubro palavras relacionadas
Se encontrasse não acharia uma pronúncia razoável para elas
Apenas me anoiteço calado e inundo
Antes de entrar mais uma vez nesta história

Quintal

          Já fostes
Minha mente
O jardim da frente
O pátio da delegacia
O entorno da casa
O descanso dos gatos.

Hoje
És o lugar
onde tu brincas
e onde dança
e tempo que,
Inelutavelmente,
           me supera.
E que - espero,
Traga para ti
algo melhor
Do que tudo que eu,
Um dia,
Experimentei.


A partir do km6. Continuamos colaborando!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O CÉU (de Haroldo Brandão)


          
O céu estrelado na cidade no meio do mundo
Calor e umidade nas almas (se existem) e nos corpos
O vírus está em gestação na troca de estação
Minha voz rouca balbucia uma perda conflito
No painel guernica que é a minha vida
Estilhaços de um eu fragmentado

Estou sem a principal arma que todos tem: a fé

Como a foto que não foi vista por ninguém
Assim o olhar triste e cansado de um cachorro nas ruas
Os maias e os hunos olhavam o céu estrelado tentando adivinhar não sei o quê

As costas de Deus estão pesadas e meu próprio peso é leve.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

POR QUE MORREU OSAMA BIN LADEN? (de Paulo Emmanuel)



Desde que soube que a princesa keith não a convidaria para o casório Real, Michelle Obama estava impaciente.
Andava de lá pra cá nervosa. Se acabou em comprar roupas de brechó. Tava que era um trapo de irritada.
Certo dia chegou pro Obama e disse: Isso não pode ficar assim.
Ãh?? respondeu Obama.
Assim como?
Assim, respondeu Michele.
Você viu que aquela plebeia amarelinha não nos convidou pro casório?
Você, o dono do império e eu a primeira dona?
Mas Michelle, eles não disseram que não iam convidar nenhum chefe de Estado??
-Uma ova! Uma ova!
É a primeira vez que um casamento real não tem nenhum chefe de Estado e logo com a gente?? Isso tá com cara de racismo.
Mas Michelle. Você já não falou sobre isso com a imprensa e disse que tinha compreendido?
_ Uma ova! Uma ova!
Vc. Vai ter que fazer alguma coisa. E já!
Mas, Michelle. Criar um problema diplomático mundial por causa de um convite?
É! Exatamente. Ou vc faz alguma coisa ou eu vou pensar que vc. se curva diante daqueles branquelos esnobes.
Tá, Michelle. Vou pensar. Boa noite.
Boa noite nada. Já pro sofá. E só volte aqui quando resolver isso.
Que porra de mulher. Pensou Obama.
De manhã ligou pro Pentágono.
-Alô. General Dureza...
_Sim, senhor Presidente. Respondeu o general batendo continência.
Estou com um probleminha em casa. Preciso de uma ajuda.
- É só pedir senhor Presidente
Não deixa o WikiLeaks ouvir isso. Mas a Michelle quer eu arrume um jeito de estragar o casamento real da princesa Keith e do príncipe viadinho, lá.
Hum... o sr. quer uma bomba?
- Não! Uma bomba não. Algo que seja importante, mas que não haja destruição em massa assim. Uma coisinha pequena que só estrague a cerimônia.
Hummm. Deixe me pensar.
Que tal matar o Osama Bin Laden?
Mas a gente não tava guardando isso pra outra ocasião??
Quando Obama pensou em Michelle, disse:
Tá. Mate o Osama no dia do casório.
Não sei. não é tão simples assim.
E qual o percentual de certeza que seja ele?
Uns 40%.
Hummm.
Faz seguinte: Mate assim mesmo, se não for ele a gente inventa uma mentira como sempre.
Ok. Sr. Presidente.
Pronto, Michelle. Problema resolvido.
Oh! Meu todo poderosinho da mamãe. Hoje vai ter nhém, nhém, nhém!
No dia do casamento Michelle Obama passou o dia inteiro com um sacão de pipoca em frente a TV de 2 km. O casamento indo às mil maravilhas e nada. 
Ligou pro Obama.
Barak???
Vc já viu a cerimônia???
Tô vendo querida.
EUUUU TAMBÉMM!!!
Vc. disse que ia acontecer algo que iria estragar a festa, mas até agora tá tudo uma MARAVILHHHAAAA.
Esperai..
Alô? Dureza. E o nosso plano?
Está correndo muito bem Sr. Mas uma tempestade atrapalhou a chegada de nossas forças e tivemos um pequeno atraso. Mas antes do amanhecer tudo estará resolvido.
Ok. Beleza.
Pela manhã Michelle vem com um sorriso maior do que o da Whoopi Goldberg gritando.
- Vc viu Obama. Depois da morte do terrorista ninguém mais fala na lua de mel da vaca de windsor.
Obrigado meu amor. Beijinho , beijinho. Beijinho e saiu toda serelepe gritando.
UH!UHHH! Atrapalhamos a trepada deles. Atrapalhamos a trepada deles!!
Obama ficou pensando.
Cara azarado esse Osama.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

JANELAS DISCRETAS Nº 13 (de Marcos Salvatore)


Renê enterrava bonecas,

tinha um cemitério e tudo pra elas,

matava e as enterrava depois

 

Marcos caçava vagalumes

Tinha uma rua inteira sem luz, pra isso

Caçava e os guardava depois, pra servir de lamparina orgânica

 

Celi procurava alguém mais cedo, que achasse Drummond quente

Tinha uma oportunidade inteira sacada pra isso

Procurava, mas não encontrou ninguém, bem que eu gostaria

 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

CLUBE PRA QUEM QUER FICAR SOZINHO (de Paulo Emmanuel)

by Paulo Emmanuel



Ontem eu abri o jornal e Li: Clube pra quem quer ficar sozinho. Fiquei curioso. Interessante!
Acho que estou precisando ficar sozinho. Vou ligar pra lá , pra saber como é. Pensei!
_ Alô? É do Clube pra quem quer ficar sozinho?
-E sim, senhor.
Quero saber mais sobre o clube. Pode me informar, por favor?
Claro! É muito simples. O Sr. se inscreve, paga uma taxa e vem pro clube e fica absolutamente sozinho. Temos folders, banners e outdoors com imagens sobre o clube. Acesse a página www.queroficarso.com.br lá o sr. Terá mais informações.
Ok. Obrigado. Fui na internet digitei a URL e lá estava:
Fotos do clube :
Uma linda praia paradisíaca e uma pessoa sentada na areia...sozinha.
Uma grande piscina com trampolim de três andares e uma pessoa dentro...sozinha.
Um lindo restaurante muito luxuoso e uma pessoa sentada à mesa...sozinha.
Um lindo bosque com muitas árvores e outra pessoa apreciando a natureza...sozinha.
Peguei o carro e fui para lá.
A inscrição nada de contato humano, tudo online. Pagando com cartão de crédito e tudo mais.
Rigoroso o clube do sozinho. Depois que você se inscreve, vc não pode mais falar, ficar ou estar perto de alguém. Eles são muito rigorosos com as regras.
Quando cheguei, um portão eletrônico me indicou um local com uns 20 chalés. Cada um afastado do outro.  Entrei e esperei.
A regra er a a seguinte: Eu era o 20º cliente que queria ficar sozinho e só podia entrar um por vez no clube e eu teria que esperar a minha vez. Aí,  entendi do por quê das fotos só com uma pessoa no clube.
Todos os outros clientes esperavam na fila dentro dos chalés

....sozinhos, óbvio.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

JANELAS DISCRETAS Nº 12 (de Marcos Salvatore)


A cidade ontem esteve desbotada e mega-exposta às mesmas impressões.

Tiros, fogos de artifício, barras de ferro, bombas caseiras. Quem apostou em pelo menos uma morte ganhou.

A pregação vazia e interesseira rondou bairros em busca de sexo e gado, eleitores inscritos.

Voltei pra casa com um puta sono, prévia da insônia, depois, sonhei com luzes de da Vinci, um baita som de fudê das frenéticas no rádio, e cheiro de alguém ao lado.

Agora, bom dia... eu acho.

FRESTAS INDISCRETAS Nº 2 (de Haroldo Brandão)




Uma nódoa de esperma

                  Na batina do Padre

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Janelas Discretas Nº 11 (de Marcos Salvatore)

Encontros e desencontros nas esquinas escorregadias de Belém, segundas intenções, lembranças da Radio Cidade e da perda de identidade. Combinação perigosa sujeita a tempestades dialéticas de quinta.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

JANELAS DISCRETAS Nº 9 (de Marcos Salvatore)




Amanheceu em segredo. Lá fora, uma terça de vontade algo débil, quer perder-se no mistério e no ridículo da florada pai d'égua.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

JANELAS DISCRETAS Nº 8 (de Marcos Salvatore)


Existe algo de menstrual numa segunda-feira pós Eleições, pré Cirial. Difícil absorver um corrimento tão contraceptivo. Portanto, sangue frio e sandálias para mais um dia útil.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

FODA-SE (de Millôr Fernandes)




                                                     
O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidadede FODA-SE que elafala. Existe algomais libertáriodo que o conceitode FODA-SE!?  O “foda-se” aumentaminha auto-estima e metorna uma pessoamelhor. Reorganiza as coisas, me liberta. Não quer sair comigo? EntãoFODA-SE!  Vai querer decidiresta merda sozinho mesmo? Então FODA-SE! O direitoao FODA-SE deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nascem por acaso. São recursos extremamenteválidos e criativospara prover nosso vocabulário de expressões quetraduzem com a maiorfidelidade nossosmais fortese genuínos sentimentos. É o povo fazendo sualínguaComoo Latim Vulgar, será esse PortuguêsVulgar quevingará plenamente umdia.

PRA CARALHO” por exemplo. Qual expressãotraduz melhor a idéiade quantidade do quePRA CARALHO”?, tende ao infinito, é quaseuma expressão matemática. A Via Láctea tem estrelas pracaralho, o Sol é quentepra caralho, o Universoé antigo pracaralho, eu gostode cerveja pracaralho, entende? No gênero do “Pra Caralho", masno caso, expressando a mais absoluta negação, esta o famosoNEM FODENDO”.

O “Não, nãonão!” e tampouco o nadaeficaz e sem nenhuma credibilidadeNão, absolutamentenão!” substituem o “NEM FODENDO” é  irretorquível, e liquida o assunto. Te liberta, com a consciênciatranqüila, paraoutras atividades de maior interesseem suavida. Aquelefilho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro parair surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo o definitivo  “Filhinho, presta atenção,  “NEM FODENDO' .

O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar coma turma numa boa e você fecha os olhose volta a curtiro CD do Lupicínio.

Por suavez, o “PORRANENHUMA” atendeu tão plenamente as situaçõesonde nossoego exigia não a definiçãode uma negação, mastambém o justoescárnio contradescarados blefes, que hojeé totalmente impossívelimaginar quepossam viver semele emnosso cotidianoprofissional. Comocomentar a bravatadaquele chefe idiotasenão comum “É PHD  PORRANENHUMA”, ou eleredigiu aquele relatóriosozinho PORRANENHUMA!. O “PORRA NENHUMA” como vocêspodem ver nosprovê sensações de incrívelbem estar interior. É comose estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos “Aspone, Chepone, Repone”, e mais recentementeo “Prepone”, presidente de PORRA NENHUMA.

outros palavrões igualmenteclássicos. Pense na sonoridade de um “PUTA-QUE-PARIU”, faladosassim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diantede uma  notícia irritante qualquer um“PUTA-QUE-O-PARIU!”, dito assim te coloca outra vezem seueixo. Seusneurônios têm o devidotempo e climapara se reorganizar e sacar a atitude que lhepermitirá dar ummerecido troco ouo safar de maioresdores de cabeça.

E o que dizerde nosso famoso“VAI TOMAR NO CU!”? E suamaravilhosa e reforçada derivação “VAI TOMAR NO OLHO DO SEU CU” ? Você imaginou o bem  quealguém faz a sipróprio e aos seusquando, passadoo limite suportável, se dirige ao canalhade seu interlocutore solta : Chega! “VAI TOMAR NO OLHODO SEU CU”.  Pronto, você retomou as rédeasde sua vidae sua auto-estima. Desabotoe a camisa e saia à rua, ventobatendo na face, olharfirme, cabeçaerguida, um deliciososorriso de vitóriae renovado amor-íntimo nos lábios. Arrasadora para uma situação queatingiu o grau máximoimaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, queuma vez proferida insere seu autor em todo um providencialcontexto interiorde alerta e autodefesa. Algo assimcomo quandovocê está dirigindo bêbado, sem documentosdo carro e semcarteira de habilitaçãoe ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando-o parar: O que você fala?
FODEU DE VEZ!

Liberdade, igualdade, fraternidade e  FODA-SE.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O DIA EM QUE PERDI MINHA VÓ NO CÍRIO (de Paulo Emmanuel)



Da série: Cadê minha vó? Jesus maria josé...

Lá pelos idos de 198epouco a minha vó paterna, a vó Dária que morava em Manaus, veio realizar seu sonho de filha de Maria, que era uma vez na vida assistir ao Círio de Nazaré. 
Eu nunca fora muito religioso, e nessa época estava cada vez mais longe das festividades religiosas, mas como minha vó tinha se descambado pra cá com essa intenção. E fui eu e minha irmã mais nova levá-la pra ver a passagem da Santa, nem que fosse de longe. 
Eu disse a ela que era perigoso chegar muito perto, por causa da forte correnteza humana que, em alguns pontos do percurso, virava uma tormenta. Eu já tinha passado por dois percalços e nos dois, quase sucumbi à fé e me desgracei nos pés da multidão. 
A primeira vez foi quando minha mãe disse: - Vamos ver a passagem da santa lá na Pres. Vargas, ali perto da Enasa. Ficamos num canto esperando e quando a onda humana realizou a curva ferozmente, jorrou gente em cima da gente, fomos arrastados e ficamos esmagados na parede do prédio da Importadora e numa luta sobre humana conseguimos sair e escapar pela rua lateral. Em menos de cinco minutos minha camisa amarela nova comprada na Makell virou um trapo. Todo mundo se olhando de olho arregalado e depois minha mãe disse: - Nossa, quase a gente morre!
Passaram-se os anos e um pouco mais velho resolvi esperar a Santa na praça matriz. Calculei mal a minha travessia com a chegada da multidão no CAM em frente ao Cine Nazaré e fui pego por uma tormenta de romeiros que me carregaram uns metros com os pés suspensos e os braços abertos em desespero. Fui salvo, quando passou perto de mim um poste e me agarrei nele. Colei agarrado que não tinha bombeiro que me tirasse dali.
Então, já tinha no currículo vasta experiência dos perigos da massa ciriana pra quem não conhece a sua força. Assim, prudentemente ficamos na esquina da Generalíssimo Deodoro com a José Malcher, olhando a procissão passar. Mas minha vó tomada pela emoção de estar vendo o Círio ao vivo, disse pra minha irmã: 
-Vamos ver um pouquinho mais de perto. 
Eu disse: - vou ficar aqui e esperar. Não vou não. Cuidado! Não vão muito perto! 
E assim sumiram na multidão que andava em direção à Av. Nazaré.
Depois de passado o burburão de gente, minha irmã voltou só e eu perguntei: 
- Cadê a vó? 
Ela disse: - Sumiu na multidão e foi arrastada pela procissão. Ainda percorremos às ruas transversais pra ver se achávamos, mas nada de encontrar a pobre senhora de 70epoucos anos. Depois de muito procurar voltamos pra casa depois de uma hora da tarde, mortos de cansaço.
-Cadê tua vó? Perguntou minha mãe.
- Sumiu no Círio, respondi. -E agora? 

Ligamos pra polícia e denunciamos o desaparecimento de uma vó assim, assado, frito, tudo. E esperamos angustiados.
E deu três, deu quatro, deu cinco, deu seis, deu sete, deu oito horas da noite e nada de minha vó retornar. 
De repente ouvimos um gritinho fraco. Alguém disse: - É a vovó! 
Morávamos num prédio na Av. Almirante Barroso que tinha quatro andares. Ao lado tinha outro, exatamente igual, também de quatro andares. O nosso, o edifício Walena tinha o portão de entrada pela Av. Almirante Barroso e o outro pela Alameda Bancrévea. Nisso meu irmão desceu e ouviu o grito mais forte da minha vó. Quando ele chegou na garagem e ouviu novamente o grito, subiu um muro, não muito alto que separava os dois prédios e viu minha vó do outro lado, segundo ele branca como um fantasma. Saiu correndo do nosso prédio, deu a volta e entrou no outro e quando lá chegou ela desapareceu!
Ele voltou branco dizendo que tinha visto o fantasma de nossa vó.
Então eu disse: - Deixa que eu vou ver isso. E corri pra baixo.
Quando cheguei no prédio ao lado, perguntei pra um morador se ele tinha visto uma senhora idosa assim, assada e coisa e tal. Logo, olhamos pra escada e lá vinha uma moradora trazendo minha vó segurando seu braço e a bichinha mais morta do que viva. Coitada.
Fiquei aliviado por ver que ela estava bem. Tremendo, me contou a história de como voltara pra casa. Quando se viu só ficou desesperada e pra explicar aos policiais aonde ela morava foi um problema porque ela não conhecia a cidade, nem tinha o nosso número do telefone. Mas acabou chegando, não sabemos como. A levei pra casa e depois do susto, tudo ficou bem.
Anos depois ela se converteu ao evangelismo e faleceu pertencendo à Assembléia de Deus.
Muito justo, pensei.