De quem é a culpa?

sexta-feira, 20 de abril de 2012

DISSERTAÇÃO SOBRE A INÉRCIA (de Marlon Vilhena)

by Anton Semenov

        Ela disse nunca mais, seu filho da puta, nunca mais, tá me ouvindo?, e ele ficou ali, sem dizer palavra alguma, enquanto ela tremia levemente de raiva, pegava a bolsa pendurada na cadeira e saía da cafeteria em direção a qualquer lugar que fosse o mais distante possível dele, que demorou ainda alguns segundos sentado, vendo-a ir-se embora, ainda de boca fechada, não sentia necessidade alguma de pronunciar sequer um suspiro, então chamou o garçom e pediu para fechar a conta e percebeu que ainda teria de pagar tudo sozinho pela última vez, mas ao menos era a última vez, pensou um tanto aliviado, estava cansado daquela encenação, coisas de namoro, ter de paparicar aqui, ser cauteloso acolá, paciente ali do outro lado, merda, estava cansado daquilo tudo, até que foi bom ela ter tomado a iniciativa, pensou que talvez tivesse faltado um tapa em sua cara, a cara dele, para deixar bem claro, a fim de finalizar a situação com chave de ouro, não houve o tapa, então apenas balançou a cabeça para esquecer enquanto recebia o troco e se levantava para atravessar a rua, olhou para o lado por onde ela tinha seguido, mas foi mero ato mecânico, não que estivesse realmente interessado em saber para onde diabos ela estava indo, ela que vá para o inferno e que foda com o diabo que eu não quero nem saber, depois refletiu um pouco mais e concluiu que estava sendo meio duro, infantil provavelmente, então que ela vá à merda, agora sim, tudo devidamente consumado e definido em todos os termos.
        Carregava um pacote, um embrulho com papel pardo sob o braço direito, ainda não sabia o que continha naquele volume, pois acabara de receber da ex-namorada enfurecida e magoada até a última ponta de fio de cabelo, e não houvera tempo para abri-lo, ela não parava de falar, e falava rápido, e falava muito, e ele apenas ouvindo, como sempre, disso ela não podia reclamar jamais, aqueles ouvidos eram latrinas, mas latrinas caras que não se encontram em qualquer lugar, de qualquer modo lá estava ele, tentando acompanhar a verborréia que ela descarregava bem ali, em cima da mesa, junto com o café e os pastéis de queijo, a clientela do estabelecimento mirando disfarçadamente para ambos, alguns riam baixo, outros arregalavam os olhos, alguns outros se sentiam ofendidos com a baixaria, outros ainda faziam cara de quem já vira aquele filme vezes sem conta, como ele próprio, entretanto, como ia sendo dito, lá ia ele com o pacote sob o braço, ela dissera que aquilo era a única coisa que queria devolver-lhe pessoalmente, embora as suas roupas seriam mais tarde entregues no apartamento, pois ela não queria mais que ele pusesse os pés em sua casa, estava tudo acabado, etc. etc. etc., na verdade ele pensou em retrucar que ela pudesse fazer o que quisesse com aquelas roupas, queimá-las, doá-las, ele não se importava nem um pouco, porém ficou quieto, bem quieto, como havia aprendido logo no início do namoro, após as primeiras explosões da recém-namorada, e agora tentava lembrar como foi que começaram a ficar juntos e a se comprometer um com o outro, quem deu o primeiro passo?, certas coisas são para se arrepender, é bem o que parece no fim das contas, pensou lentamente enquanto alcançava a calçada do lado oposto.
        Primeiramente queria chegar ao seu apartamento e só então abrir o pacote, não que estivesse realmente interessado em descobrir o que ela resolvera lhe devolver pessoalmente, afinal de contas, depois de toda a encenação, parecia que tudo ficava um tanto sem graça, claro que era brincadeira, uma brincadeira de mau gosto, meio clichê, mas não encontrava outro jeito de passar o tempo enquanto caminhava em direção ao seu apartamento, que ficava a algumas quadras dali, cerca de vinte minutos, podia parar em algum mercado, comprar alguma coisa para preparar o jantar, ou talvez passar na locadora de vídeos e pegar alguns filmes para assistir mais tarde, mas preferiu seguir direto, a cabeça um pouco curvada para baixo, olhos encarando o concreto das calçadas, era uma tarde movimentada em uma cidade grande, não precisava se preocupar em olhar para os lados antes de atravessar qualquer esquina, bastava seguir o fluxo humano, por isso continuou pensando em brincadeiras de mau gosto enquanto se esbarrava com pessoas falando ao celular, pessoas saindo e entrando de lojas, pessoas carregando pacotes maiores que o seu, pessoas passeando simplesmente, quem diabos tem vontade de passear por uma rua entupida de gente, num bairro feio como aquele, numa cidade fedorenta como aquela e todas as outras grandes cidades?, pensou, isso não seria muita falta do que fazer?, pensou, entretanto estava só matando o tempo enquanto seguia em frente, o embrulho firme debaixo do braço, de uma coisa sabia, não era nada pesado, então provavelmente não era muito caro, ou seja, ela era muito esperta e ele podia esquecer reaver qualquer presente valioso, como joias, por exemplo, que ele tivesse lhe dado, ou isso ou ele definitivamente era um belo filho da puta, o que só fazia com que ajudasse a provar que as mulheres são, em linhas gerais, mais sábias e evoluídas do que os homens, pelo menos em quase tudo, mas não em tudo, ele finalizou o raciocínio ao dobrar a última esquina e avistar o prédio onde morava, um prédio simples e feio, como todo o resto do bairro, inclusive como a si mesmo, portanto, bem lá no fundo, não era tão ruim assim.
        Subiu as escadas até o terceiro andar, o edifício era baixo, não possuía elevadores, cumprimentou o zelador, seu Pereira, que descia com alguns sacos plásticos, cumprimentou a dona Zélia, que morava sozinha em um dos apartamentos do segundo andar desde o dia em que o marido morrera de infarto fulminante no meio da rua, acho que há cerca de dois anos, tentou recordar, acenou para uma garotinha que se mudara recentemente com a mãe para o apartamento no final do corredor do seu andar, e que, naquele momento, brincava com um carrinho de fricção, puxava o brinquedo para trás, apertando as rodas no chão de azulejos, depois o soltava para vê-lo colidir com a parede ao lado da porta, dava um pequeno sorriso, voltava a pegar o carrinho e recomeçar a diversão, estranho uma garota brincar com carrinhos, no meu tempo não era assim, mas o tempo dele já havia passado há muitos anos, nem sabia mais direito o que era o tempo dele, quem sabe ainda estivesse parado no tempo dele e não soubesse qual tempo era aquele, aquele mesmo em que se encontrava, com um pacote agora nas mãos, procurando as chaves no bolso da calça, observando uma criança estranha, é loirinha, só agora havia reparado em seus cabelos, a menininha levantou o rosto para ele, desta vez sem sorrisos, apenas um olhar de desconfiança, de quem ouviu direitinho quando os mais velhos repetiram centenas de milhares de vezes para não falar com estranhos, porém sua atenção se prendeu ao pacote que ele levava consigo, não, não é pra você, ele não disse em voz alta, somente formulou a frase em sua cabeça, percebeu que não adiantava falar nada disso para ela, enfiou a chave na fechadura, girou a maçaneta e empurrou a porta, não sem antes lançar-lhe outro aceno antes que ela voltasse os olhos para o carrinho meio esquecido em sua mãozinha meio gorducha, talvez cinco, talvez seis anos, não mais que isso, refletiu ao fechar a porta.
        Ligou a luz da sala, a iluminação natural à tarde não era muito boa, por isso o aluguel não era tão alto, ao menos foi o que o corretor dissera quando vieram visitar o recinto pela primeira vez, deixou o embrulho sobre a mesinha de canto ao lado do único sofá, de três lugares, normalmente este móvel possuía duas opções de uso, era onde dormia após uma noite de alguns filmes sem conseguir pegar no sono, ou então quando dormia com a namorada, e obviamente a partir daquela data as noites de filmes aumentariam de frequência durante as semanas, sentia isso, era um aficionado por filmes, já escrevera alguns roteiros e os enviara a algumas pessoas que conheciam outras pessoas que mantinham contato com grandes pessoas do mundo da mídia em geral, jornalistas, escritores, atores de primeira, segunda ou terceira linha, assistentes de diretores etc., mas até aquele momento não tinha obtido qualquer resposta, satisfatória ou não, sobre qualquer um dos textos, tinha a impressão de que os mesmos sequer chegaram às mãos e aos olhos de quem deveriam chegar, mas também não fazia muitos planos, mantinha os pés bem plantados no chão, e de repente se lembrou de uma conversa que tivera com a recente ex-namorada, uma conversa em, que mais uma vez, decidira não abrir muito a boca, se não para bebericar o vinho que havia comprado para comemorar o primeiro e único aniversário de namoro de ambos, uma conversa em que as palavras futuro e esforço e objetivo se mantiveram entre as cinco mais proferidas e enfatizadas por quase uma hora, não é necessário tentar lembrar quais as outras duas, quando ela resolvera parar de falar, ao olhar bem nos olhos dele, tomar um grande gole da taça de vinho nas mãos e ir para a sacada do apartamento pegar um ar fresco, claro que ele sabia que era com o intuito de evitar sua presença ali, embora isso fosse um pouco difícil, já que era ele próprio quem morava naquele endereço, então ela apenas voltou para dentro, pegou mais um pouco de vinho e voltou para a sacada, ele a chamou para vir assistir a um filme, ela respondeu que não estava afim, ele disse que tudo bem, não iria forçar nada, e foi quando ela veio de lá de fora, tomou outro grande gole da bebida, deixou sua taça sobre a mesinha de canto e pôs-se a falar e a falar, só que mais alto do que antes, com mais sentimento do que antes, sinceramente, com mais raiva do que mágoa de antes, gritando que ele nunca fazia nada diferente daquilo, que sempre era ela quem dizia, que sempre era ela quem se descontrolava, que era ela quem decidia, ele respondeu nesse momento que não era bem assim, que fora ele quem escolheu o vinho e a receita de frango que, aliás, estava quase pronto, faltavam poucos minutos para tirar do forno, então ela gritou, não, ela esbravejou alguma coisa como puta que pariu, ou então mas que merda, ele não lembrava muito bem dos palavrões, afinal todos significam a mesma coisa, e ela repetiu novamente e de novo as palavras futuro e esforço e objetivo, mais alguns palavrões, não exatamente nesta ordem, pegou a bolsa e disse que ele podia comer o frango todo sozinho e saiu, ele ficou um minuto parado no meio da sala, o controle remoto da televisão na mão, até perceber que já estava na hora de retirar o assado do forno.
        Isso foi dois meses antes, a relação não terminou daquela forma, eles, ou melhor, ela reatou o namoro alguns dias depois, disse que tinha feito um papelão, que não queria dizer aquelas palavras de verdade, mas que se preocupava com certas coisas na vida e ele parecia sempre um pouco alienado dessas mesmas coisas, mas tudo bem, não precisamos falar disso, se você não quiser, vamos assistir a um bom filme hoje, quem faz o jantar sou eu, ele aceitou e tudo pareceu voltar aos antigos eixos, até aquela tarde, quando ela marcou o encontro na cafeteria, a mesma que frequentavam desde que tinham se conhecido, ela havia ligado do escritório, ele pensava que podia ser algo grave, mas nem tanto, talvez apenas um papo para descontrair no final do dia, foi isso o que pensava quando ela adentrou o estabelecimento com um semblante sério e sequer provou dos pastéis que, aliás, estavam muito bons, e começou a dizer que havia pensado melhor, que aquela situação não estava dando certo, que era melhor cada um seguir o seu caminho etc., coisa e tal, ele não estava entendendo, disse isso, foi quando ela começou a ficar realmente alterada, retirou da bolsa o pacote e o deixou em cima da mesa, ao lado das xícaras de café, e desta vez, somente desta vez ele quis responder algo mais, indagar mais, então ela não se aguentou e soltou alguns palavrões, ele já estava acostumado àquilo, só ficou um pouco surpreso com o tal filho da puta, todos nós a partir daí já conhecemos a história, e era nisso tudo que ele pensava, encarando o embrulho pardo na mesinha de canto, sempre em silêncio, antes de buscar um copo de água na cozinha, ela parecia ter um problema preocupante com oscilações de humor, ou talvez fosse ele quem carregasse o problema, mas nunca tinha antes visto a relação por esse ponto de vista, fazia o que tinha de fazer, ligava em seu trabalho vez em quando, os dois passeavam vez em quando, os dois bebiam juntos vez em quando, de repente recordou um detalhe, o de que faziam sexo à luz de velas, especialmente uma noite em que haviam voltado de uma sessão do cinema, ele se preocupava com certas coisas como as velas, isto é, o que ela falara não era totalmente verdade, não que estivesse magoado com tal declaração, não sentia mágoa por assuntos pequenos, aquilo era um assunto pequeno para ele, então notou que realmente o problema poderia ser com ele, que não fazia muito além daquilo que fazia há tanto tempo, que escrevia roteiros que não sabia onde tinham ido parar, que não procurava buscar algo mais em sua vida, que buscava saber o que iria jantar e não se importava com o resto de seus dias medíocres, com querer um lugar melhor para viver, atitudes pequenas que se tornavam grandes para ela, que não se contentava com o escritório, que buscava reconhecimento dos outros, ele deveria também buscar reconhecimento dos outros, afinal de contas, você é ou não é um escritor?, na verdade roteirista, ora dá na mesma, não dá na mesma, é um pouquinho diferente, você pensa em um escritor como alguém que produz contos, romances, meu trabalho é um pouco diferente, você é louco, não sou louco, sou mais como alguém que tem um conceito diferente da maioria, você é louco, sim, você usa tanto a palavra diferente que acaba ficando igual à mesma maioria de que quer tanto se distanciar, não é verdade, você está delirando, acho melhor eu ir embora, preciso trabalhar muito cedo amanhã e não trouxe roupa para me trocar, e ele ficou nu no sofá, olhando através da sacada e pensando se seria uma obrigação ela ter de recordar toda vez o futuro, o futuro besuntado de esforço e objetivo, mesmo depois de um sexo em que ela havia tido dois orgasmos.
        Voltou com o copo de água da cozinha, bebeu um pequeno gole, era mais para molhar os lábios e ter algo com que ocupar as mãos enquanto não as avançava para cima do pacote, a despedaçar o papel pardo que agora estava um tanto amassado, fora ele quem o havia amassado e não se dera conta, no fundo, no fundo não queria tê-lo recebido, mesmo que não soubesse ainda o que escondia, não queria tê-lo aceitado daquela forma, pensou que poderia tê-la segurado na cafeteria enquanto conversavam um pouco mais, podia tê-la acalmado para não lhe dar o direito daquela briga entre os pastéis de queijo e o café, que ela devia ter ficado e bebido do café para se acalmar, mas que ideia estúpida, café não acalma ninguém, sua besta, não devia tê-la mandado à merda, mesmo que só tenha falado isso para si, minha nossa, tê-la imaginado foder com o diabo, quem era ele naquele momento?, estava muito errado, estava errado porque não era nada do que pretendia para ela, mas veio um rastro de pensamento obscuro de algum canto daquele apartamento, como uma pulga que se instala devagar atrás da orelha e começa a incomodar aos poucos, um pensamento estranho que ilumina feito uma lanterna com a pilha fraca, que vai tentando iluminar o caminho à frente e falha e ilumina e falha de novo, um pensamento que mostrava um quadro em sua mente e de que até então havia percebido somente a moldura, um pensamento que dava voz àquele quadro, uma voz rouca e baixa dizendo anda logo, abra esse maldito pacote e veja o que restou para você, o que restou para um medíocre como você, nesse pacote sobrou alguma coisa a qual ela dava importância e de que você fez pouco caso, veja o que ela deixou e então volte os olhos para mim, este quadro que você sabe bem o que representa, não precisa necessariamente dessa lanterna para me enxergar, sabe o que quero lhe mostrar e não tem coragem de me encarar, não é mesmo?, pois tome coragem dessa vez que pode ser sua última chance de ter realmente algum vislumbre do que virá a ser o resto de seus dias, deixe de bancar o roteirista pois agora é você o protagonista nesta história, largue esse copo de água e veja o rascunho de si próprio, então ele levantou o pacote com uma das mãos enquanto depositava a água sobre a mesinha de canto, arrebentou o barbante que o envolvia e o jogou para um lado, rasgou o papel pardo e o arremessou para o outro lado, sentou-se no sofá, suas mãos inertes sobre um monte de páginas juntas por uma encadernação plástica , seu nome escrito em letras maiúsculas no centro da primeira folha, o volume agora parecia pesar mais do que antes, como isso era possível ele não queria saber, respirou fundo e folheou depressa as páginas e viu que ali não havia palavra alguma, o volume inteiro mostrava um nada branco, nada senão seu nome no rascunho de capa, não entendia, aquilo não era dele, ou era e não se lembrava, aquilo estivera com ela e ele não entendia o porquê, não se lembrava de lhe ter deixado alguma vez um trabalho seu para apreciação, talvez fosse o prenúncio de uma autobiografia, uma ideia ridícula, não havia muito o que ele pudesse contar sobre si próprio, e foi quando ouviu a voz baixa e rouca novamente, agora cantarolando uma canção de sua infância, uma antiga e esquecida canção que estivera alojada no fundo de seu cérebro, em meio a teias e poeira dos anos passados por ele, isso mesmo, passados por ele simplesmente, ouviu a voz sentenciar que aquilo é o rascunho de si próprio, aquilo é o grande vislumbre do resto de si próprio, porém não era a mesma voz baixa e rouca, era sua voz saindo por sua garganta, sua voz que quase sempre se calara quando devia ser ouvida, de repente sentiu uma sede imensa, uma sede de uma vida inteira, procurou o copo na mesinha e esbarrou nele com os dedos trêmulos, o vidro se espatifou e no meio dele, sobre o assoalho, surgiu uma poça indefinida, como sua vida em branco, como aquelas páginas sem sentido, e descobriu num lampejo que a poça era o quadro revelado afinal, a moldura era o apartamento escuro, e tudo o que restava ali era o seu nome intitulando o calhamaço de um vazio que doía pesado em seu peito.
        Tropeçando, saiu para o corredor lá fora. A menininha loira continuava com seu carrinho de fricção. Ele a fitou, ela o fitou e desta vez lhe sorriu. Largou o brinquedo e viu-o correr acelerado até se chocar no sapato daquele vizinho que queria chorar, chorar como ela quando queria atenção de sua mãe antes de dormir, e parecia haver desaprendido como se fazia isso.



segunda-feira, 16 de abril de 2012

ANTIBASEADO EM FADAS E BRUXAS (de Marcos Salvatore)


by Mary Ellen Mark

Um tempo atrás parecia fazer parte
Mas não rolava aquela rima, aquela bossa
Pelos bares, pela idade
Por onde eu adormecia e acordava

Com meus sonhos e pensamentos
Com meus pés procurando
Os compassos dos seus pés
Em um chão descalço de vexames

E mais dia menos dia aconteceu,
Pode crer que a gente finge que se esquece
Olha, a história que eu te dei, que eu te contei
Vai perceber que era verdade

Dessas coloridas de lembrar
De desenhar por um momento
Por algum tempo encandecido
Enquanto a gente se torna sem tentar

Antibaseada em amizade
Em meio às bruxas e as fadas da cidade
Que de alguma forma
Pegam leve, não são nem somam a metade

Do que eu tenho pra te dar:
Um mar de experiência viva
Mar tanto para atravessar em braçadas vorazes
Os seus abraços

E descobrir um mundo novo
No entender de se achar
Algo sem tradução