De quem é a culpa?

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

COXAS PERFUMADAS (De Marcos Salvatore)

by Alex Varenne

Uma mulher grávida, dentro de um ônibus super lotado. Eu, sentado no lado do corredor, sentido na cara o umbigo deslavado daquela fecundação. Acordo puto, mas tento ser gentil:
- A senhora quer sentar?
- Se eu quisesse ir sentada, pegaria um táxi.
- Então, ta legal – na verdade o que pensei foi: - “Ok, foda-se”.
Fechei os olhos e tentei voltar a dormir. Não me saia da cabeça aquela resposta, ao mesmo tempo grosseira, sem rodeios, destemida, altiva. Acho que o fato dela estar grávida e do ônibus estar lotado não contribuiu para aquilo. Tem gente que se estressa numa boa. Senti um presságio de degeneração a caminho.
Fiquei de pau duro. Comecei a me aproveitar da situação, adorei o roçar do meu ombro naquela buceta e da sensação dos pentelhos não aparados, equivalentes a oito meses de “pregnantismo”. Suas coxas exalavam um cheiro de mulher indecente que me inebriavam. Mais ainda, o fato de estar me aproveitando daquela “resposta”. Era meu álibi. Ali eu era um gentil, não um fauno. Fingia estar dormindo. E ela roçava a barriga na minha orelha – “ah, safada”. Ela também estava se aproveitando da situação. De mim.
Sempre durmo em ônibus. É irresistível o movimento lerdo de qualquer ônibus, qualquer itinerário. Manhã, tarde ou noite. Amém. Rezei por nós dois. Acreditei na palavra pecado, nas lendas urbanas do sexo casual, marginal. Um anti-credo pelo amor.
Bucetas peladas são melhores pra chupar. Todo mundo sabe disso. Mas eu prefiro aquelas estilo “quase peladas” – não sei por que, lembrei da Margaret Thatcher.
Senti vontade de tocar no seu cabelo. Sangrar a sua boca com beijos. Algumas fêmeas precisam ser fecundadas por mais de um macho. A natureza nos reserva lugares e horas impróprios. Julgamos a vida sem levar em conta o gosto da comida. O leite materno é a gala da mulher - líquido da vida. Então poderia até dizer que gozar na boca deixa a mulher mais forte. Pelo menos eu nunca vi uma atriz pornô gripada ou com sarampo. A gala é uma vacina do amor. A brancura da porra em contraste com a pele rosada de uma fêmea chorosa sempre me deixou emocionado.
O ônibus foi esvaziando. Passamos o shopping, passamos o viaduto, passamos outra cidade. E ela não se sentou, ou melhor, recusou outros convites. Parecia conceder aquilo. Agora se esfregava deliberadamente em mim. A conquista é um dos pesos do mundo e do homem. A mulher sempre se deixa, quer sempre se deixar. O homem é que não liga pra porra nenhuma.
Tomei a liberdade de enrolar um pouco do seu vestido no meu dedo médio. Brinquei com aquilo, conheci sua solidão, tão irmã da minha. De forma que somente nós dois soubéssemos. Senti os pelinhos da perna, o joelho. Era o nosso segredo. E cada segredo é um infinito. É um mínimo daquilo que foi prometido.
O destino chegava. Comecei a sofrer. O fato de ter que descer me doeu tanto, que me fez lacrimejar. Perdi algo mais além do sono. Não queria que ela fosse embora. Não sem mim. Ela agora era minha. Apenas, somente... minha - não estou conseguindo criar a imagem certa.
Queria escrever nas suas costas com as minhas unhas. Tocar nas suas reentrâncias e ela nas minhas. Passar minha língua no seu cú como um dono, uso capião total da sua bunda. Gravar sua virgindade gotejante no meu peito estrelado... então, eu acordei.
Ela foi embora. Desceu em frente ao Pronto Socorro. Não era mais a mesma. Sua voluptuosidade desapareceu completamente. Eu estava errado. Foi uma alucinação.
Uma outra mulher, que desceu com ela, gritava para o filho cheio de piolhos: - “Desce Michael! Para de coçar a cabeça”.


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