De quem é a culpa?

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A VELHA E O VICIADO* (de Paulo Lins)



Bá preparava-se para deitar quando ouviu a voz cuidadosa de Manguinha entrando pela fresta da janela. Falou que já ia, depois de vê-lo no portão pela porta entreaberta. 
- Quantas vai, meu filho? 
- Eu só queria uma trouxa, só, mas aí: tô meio caído, morou? Se a senhora me vender, amanhã, antes do meio-dia, eu trago a grana.
- Fiado eu não vendo, não, mas se você quiser fumar um comigo é só entrar - disse a velha. 
Seu pensamento num segundo tramou sedução. Havia muito tempo só fazia sexo sozinha. Manguinha sentou-se no sofá encardido, observou a sala: são Cosme, Do Um e são Damião iluminados pela lamparina de azeite; uma cristaleira antiga com alguns copos coloridos; um jogo de chá; a mesinha de centro cheia de objetos domésticos; teias balançando ao mínimo vento. Bá preparou com capricho o cigarro de maconha do tamanho de um bonde, mirando endoidá-lo o suficiente para facilitar a sedução. Acenderam o baseado. A velha afirmou que aquele fumo era especial. Ofereceu uma dose de uísque ao viciado, disse-lhe que tinha uma rapinha de brizola para depois de fumarem. Manguinha adorou a idéia. Fumava rápido para poder consumir a cocaína tão cara e rara de ser encontrada.
A velha sugeriu que fossem para o seu quarto, alegou que poderia chegar uma de suas filhas, não queria que elas a vissem cheirando. Desenrolou as cortinas, derramou a droga num prato quente, apanhou uma lâmina de barbear em cima do guarda-roupa para trabalhar a cocaína. Enquanto transformava em pó as pedrinhas da brizola, dizia a Manguinha que não sabia o porquê de ter-lhe tanto afeto, que jamais tinha cheirado com esse ou aquele freguês, ele era o primeiro e único. Sempre que quisesse cheirar ou fumar era só dar um toque nela. 
- Por que tu não tira essa calça molhada? Bota ela atrás da geladeira. Seca rapidinho. 
- Podes crer! - concordou. 
Aproveitou para tirar a camisa. Dava corda ao jogo da velha. A pele branca de Manguinha era iluminada pela luz da lamparina do santo que atravessava a cortina de tecido ralo. Bá apanhou mais maconha. 
- Vamo fumar outro pra quando a gente cheirar ficar ligadão de uma vez? 
A velha pediu que Manguinha apertasse o baseado, fez dez carreiras de coca no prato. Enquanto fumava deixava a mão escorregar na perna do viciado, fez isso várias vezes. A mudez de Manguinha fez com que ela repousasse a mão definitivamente em sua coxa direita.
- Sua perna é cabeluda! - disse com voz macia e alongando o som da penúltima sílaba do predicativo. 
Manguinha manteve-se calado. A velha apertava os dedos, aproximou a mão para perto do pau duro do maconheiro, deixou que ela repousasse ali, o baseado ia pela metade. Num lance lento segurou o pênis por cima da cueca. 
- Hum... o lulu tá durinho! 
Apertava, friccionava para cima e para baixo. Manguinha agia como se tudo estivesse correndo normalmente. A velha sabia que ele tinha energia para arrepiá-la com vontade. "A vida é muito boa", pensou quando fez desabrochar de dentro das garras da cueca o caralho do viciado. Abocanhou-o no primeiro segundo. Manguinha sentiu nojo no começo, mas o apetite da velha o fez gozar em pouco tempo. Ao se recuperar, pediu-lhe que fizesse novamente. Esqueceram a cocaína no prato, o baseado no cinzeiro, a chuva no telhado. Carcou fundo na velha. O maconheiro, não sabia por quê, se lembrava de sua mãe, da namorada, dos amigos... Tentou parar com aquilo, mas não conseguiu, sentia prazer de verdade em encenar aquele ato.
Aos poucos foi ficando ali como se estivesse perdidamente apaixonado. 
Bá se esparramava nos quatro cantos da cama, nem suas filhas, que eram novas, não tinham varizes, peito caído, possuíam dentes, tinham conseguido um jovem tão bonito. Quem sabe um dia poderia sair com ele abraçada pela rua, apresentá-lo às amigas como seu marido, mas não, era sonhar alto. Se continuasse assim estaria bom demais. Atingiu o orgasmo várias vezes. Quando sentia que o viciado ia gozar, mesmo sabendo que ele se recuperava na rapidez dos seus dezoito anos para mandar ver de novo, diminuía os movimentos para que ele ficasse o maior tempo possível em cima dela. Quando Manguinha gozava, Sebastiana abocanhava-lhe o pau com apetite. Era feliz.

*O título não pertence a obra; história extraída do livro "Cidade de Deus". Espero que este trecho estimule a leitura do livro.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

RESÍDUOS PERFUROCORTANTES (de Marcos Salvatore)


 

Estava com pressa de chegar aqui
Pressa, estou aqui para entendê-la
Tenho tendência a ser subversivo
Mas é gratuito, fruto sarcástico e insolente da virilidade pagã
Coisa de moleque
Palavra bonita “subversivo”
Me faz lembrar da palavra mais linda que se diga
Depois do nome da cria
“Verso”
Mas, não posso dizer que estou sofrendo
Não agora que acho que mudei demais
Será evidente?
Outra bela palavra, de energia extra
Estou mudando de assunto para substituir
Porque estou bem ferido e deformado
E um pisciano de coração partido nada muito mais
Gera noites intensivas e amanhãs de difícil acesso
Observo o rato que perseguimos tanto noite passada
Ele atravessa a sala indiferente a mim
Seu instinto não me nota
Poderia mata-lo agora mesmo
Mas sua presença não me afeta
O que me afeta?
Entrei na onda - mantras auto sugeridos, vibração
Estou me descafeinando, sabe?
Só que filtrar essa borra traz choque e surpresa
É sempre a mesma receita:
Coma
Paixão
E trilhas de filmes que não lembro o nome, agora
Alguém que traga
Fogo para soprar o ar
Varrer a terra a vontade
Alguém com água de sede
Alívio breve que pode acontecer outra vez
Curativo cirúrgico e indetectável
E pode ser comovedor, experimental, absurdo
Capturar a distração de pessoa que passa
E que se deixa querer
Deixando um jeito de andar diferente pra trás
Aquele estranho atrativo que não se recusa, assim, logo de cara
Fora isso tudo... acho que continuo o mesmo
Não tenho opção

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

JANELAS DISCRETAS Nº 18 (de Marcos Salvatore)



Michelle Dayane teve um caso com um professor de Física no Ensino Médio. Nunca entendeu da matéria, mas achou que se relacionando com homens mais velhos, que falavam alto (adorava isso) faria uma espécie de intensivo não eliminatório. Bom, casou com um e quando este envelheceu e passou a beber sozinho, na sala, cantando, bêbado, Flash Backs do Kool and The Gang, ela resolveu sair com rapazes mais novos, bons dançarinos de forró; daí para provedora madre dos fulanos foi o destino. Eles tiravam cada centavo dela em noitadas universitárias, assim como ela arrancava a pele do marido. Xodó de cu é foda.