De quem é a culpa?

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

VOCÊ ME GUIA (de Gleice Portugal)

Trilha Sonora: Cristal Ship, The Doors.

Compartilhamos nostalgias perdidas,
no brilho dos olhos...
como uma melodia muda de sentimento secreto

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

LIBRA (versão Vilhena dos Signos)

(por Marlon Vilhena)

Trilha Sonora: ...,.....,..,..,,,.....,.....,......,..,......,,......,,,....,..,....,.....,.


Pelos dias e pelas noites há um horizonte a carregar expectativas vis e do que é vivente. É das flores e do escarro que falo, do brilho e da lama que nasce a palavra. Águas escorrem pela montanha mais alta e pela manhã de chuva enquanto minha alma, presumindo-se que a tenha eu, se lava com pouco e de pouco a pouco na enormidade do orvalho e da bebida. Pensante é minha morada, pois do ar ela se cria e no ar se esvanece a cada pequena tragédia. De Vênus se refaz e em Vênus se transforma em pão que me sustenta. Substância de canto e delírio, plenitude vã. Justa é a luz na ira, na bonança e na doença, justa é a beleza que entristece, violenta e aconselha. Das fotografias vêm-me sussurros de tempos mortos e um farfalhar de ramos por desabrochar naquilo que envelhece, quando envelheço. Pois envelheço cético na utopia dos homens, envelheço homem na meninice da piçarra, envelheço mar num estuário para o oceano. De súbito um engano de mim mesmo, talvez um átomo de grandeza, e então pousa a primitiva fênix nos ombros a espiar longe, longe, uma vez mais, uma vez outra. Vertem dos céus, da grama e do sangue desatinos, reticências e declarações de amor, enquanto não sei da matéria de que te constituis ou da piada que me repetes.

(Uma mentira.)

ILDEBRANDA MOCCIA

Gosto muito dos textos publicados no blog de vocês. Na verdade sempre odiei blogs, orkuts e coisas assim. Sempre achei a internet algo meio psicótico, masoquista, sem nenhuma profundidade cultural e humana. Tudo o que torna um ser humano descartável me deprime. Porém, quando por acaso li um texto de vocês chamado MANIFESTO DE PODER que me deixou muito emocionada, pela primeira vez na vida pude experimentar um sentimento compartilhado e pleno. Tornei-me uma fã sincera e devotada. Mesmo os textos mais sombrios e agressivos, ou trágicos ou poéticos. havia um prazer em entrar na internet só para ler vocês todos os dias, só para me encontrar com vocês, meus amorosos rapazes. Depois que meu filho morreu vocês se tornaram minha companhia de todos os dias. Ele também gostava muito de escrever e desenhar. Mas devo dizer que me sinto orfã outra vez. Talvez vocês não saibam o quanto têm ajudado a alguém que não conhecem.
Fica o meu pedido para que não se deixem abater e o meu colo e conselho de mãe para que voltem a escrever.E Marcos, feliz aniversário. Eu deveria ter dito isso antes, não quis dizer, mas eu amo você.

TOURO (CHATO. EU?)

Trilha Sonora: Todo Errado – Jorge Mautner & Podres Poderes – Caetano Veloso.

O BILHETE – 10h.

- Bom dia!

- Bom dia, senhor.

- Por favor, eu quero uma passagem de camarote para Belém.

- O senhor quer uma cama?

- Não! Camarote mesmo.

- Não vendemos camarote, senhor, vendemos cama.

- Como assim?

- É o seguinte: nós temos passagens para rede e para cama.

- Mas no barco que eu vim, eu comprei camarote. Neste não há camarote?

- Há, senhor. Mas é que no camarote há quatro camas, aí o senhor compra uma delas. Entendeu?

- Quatro camas? No que eu vim havia apenas duas. E era camarote.

- Não! O senhor veio numa suíte, então.

- E nesse barco, não há suíte?

- Há, senhor.

- Então eu quero uma suíte.

- Como lhe disse, na suíte há duas camas. O senhor tem de compra a suíte inteira.

- Por que isso? Eu estou sozinho. Não preciso de duas camas.

- Infelizmente, senhor, só posso vender a suíte inteira.

- O que um passageiro sozinho precisa fazer pra viajar numa suíte? Ficar aqui em prontidão esperando que outra pessoa resolva comprar passagem?

- Desculpe, senhor. Mas só posso vender a suíte inteira.

- Então me venda mesmo o camarote.

- O senhor quer dizer uma cama?

- Linda, se sou apenas uma pessoa e estou comprando uma passagem no camarote, não fica subentendido que eu estou querendo apenas uma cama?

- É que, no camarote, nós vendemos camas, senhor.

- Ah...então eu posso levar a cama?

- Não, senhor!

- Ok! Tu do bem! Me vende então uma cama. Fazer o quê? Mas... no camarote!

...

- Sua passagem, senhor.

- Que horas sai exatamente o barco? Preciso calcular o tempo de viagem.

- Às 18h, senhor. Mas há uma tolerância de meia hora.

- Sei. Ele sai as 18h e 30min, né?

- Não! Na sua passagem, a hora marcada é às 18h.

- Escuta, querida, ele sai deste porto mesmo ou eu preciso nadar até a outra margem?

- Sai daqui mesmo, senhor, às 18h.

- Aff!!

O CAMAROTE – 18h 15min.

Um senhor que comprou uma das camas...

- Boa noite!!

- Olá! Boa noite.

- Escuta! Você vai aí nessa cama?

- Sim. Esse aqui não é o camarote nº 9?

- É... mas... você vai ficar aqui ou vai sair?

- Por quê?

- Porque eu quero dormir.

- E daí? Durma ué!

- Se você ficar entrando e saindo, não conseguirei dormir com o barulho.

- Desculpe-me, meu senhor, mas não vou deixar de ir ao banheiro ou fazer qualquer coisa que eu tenha direito nesse barco só porque o senhor quer dormir.

- A tua sorte é que eu tenho sono pesado!

- Minha, não! Sua.

UM PASSAGEIRO DE MEIA VIAGEM – 2h 33min.

No meio do rio, o barco diminui a potência para um embarque de um passageiro.

- É sempre assim? Um barco encosta no outro para o embarque dos passageiros?

- É... e a viagem de lá pra cá foi horrorosa. Choveu e balançou bastante. Pensei que fosse morrer.

- Você está vindo de onde?

- De Bagre.

- Como é lá?

- É uma cidadezinha. Muito pequena. Só há três restaurantes e neles não vende filhote.

- Porque é Bagre.

- Não entendi.

- Deixa pra lá... Quer dizer que a viagem até aqui foi ruim?

- Puta merda! Não quero nem pensar!... E nesse barco aqui também é muito escroto. De vez em quando, ele arrasta em um banco de areia.

- Esse aqui?

- Sim! Olha! Olha! Tá sentindo? Tá sentindo ele arrastar?

- Não, cara, não tô não. Aqui é fundo.

- Mas ele arrasta. E pode até virar. Pode crer!

- Amigo, ao viajar de avião, você só fala em tragédias?

- Não. Por quê?

- Você está fazendo isso aqui.

- Foi mal. Vamos mudar de assunto, né?

- Acho bom!

O DESEMBARQUE – 5h 50 min.

A esta altura, já havia voltado para o camarote, mas não consegui dormir porque o senhor que não queria barulho roncava só como ele mesmo. Forma-se uma confusa fila para desembarcar...

- Por favor, amigo, não empurra.

- Então vai logo que eu quero descer.

- Eu também, porra!. O senhor não está vendo que há várias pessoas na minha frente?

- Ô povo lento!

- Diga isso a eles, mas não empurra...

O sujeito continuou resmungando atrás, mas agora três posições depois de mim. Resolvi ignorá-lo.

O TAXISTA – 6h 20 min.

Desembarque movimentado. Os taxistas disputavam os passageiros e vice-versa. Até que consegui um que, para meu azar, escutava um tecnobrega...

- Bom dia!

- Bom dia! Almirante Barroso, no Marco, por favor.

- Ok!

- O senhor pode desligar o som?

- Não gosta de brega?

- Detesto!!

Segundos depois...

- Foi boa a viagem?

- Conturbada!

- O barco chegou agora?

- Se o senhor não tem o que dizer, não pergunte!

- Opa! Desculpe.

- Tudo bem. Desculpe-me o senhor. Só estou com um pouco de sono.

- Eu entendo...

- Nesse horário ainda é bandeira 2?

- É! Bandeira 1 só a partir das 8h.

- Tem algum desconto?

- NÃO!

Taxista chaaato!...

(Por Fabio Castro)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Entropia (parte I)

(por Marlon Vilhena)

Trilha Sonora: The Silence Cries (Trail Of Tears).


Três e meia da manhã, justo no momento em que surge o carro virando a esquina à direita, sem frear. O motorista quase perde o controle do automóvel, mas consegue voltar ao asfalto depois de avançar cerca de quinze metros sobre a calçada e derrubar longe uma lixeira pública, que acaba parando do outro lado da rua. Nenhum pedestre à vista. Os pneus cantam e não aparece ninguém para testemunhar o que acontecia. Melhor assim, pensou, ou ao menos foi o que tentou pensar. Péssima idéia ter começado a pesquisar aqueles malditos textos, agora não havia volta. Era uma certeza tão grande quanto a de que estava prestes a enlouquecer.

Ele não podia parar o zumbido que vinha de dentro da cabeça, um zumbido que parecia dominar completamente seus ouvidos, já que não ouvia o motor gritando debaixo do capô, ou mesmo seus próprios uivos de dor, enquanto segurava e apertava os dedos em volta do volante com força. Concentre-se, merda, concentre-se. A agonia era muito grande. Outra vez subiu na calçada, esbarrou a lateral direita do carro em uma banca de revista, faíscas saltaram para trás. Bateu na cabeça em desespero com uma das mãos, tentando expulsar aquele barulho de si, em vão. Sabia que não podia mais fazer coisa alguma.

Uma pontada na nuca, bem no fundo do cérebro. Um grito estridente, fazendo-o levar as duas mãos aos cabelos. Foi quando perdeu a direção totalmente, fazendo com que a frente do automóvel batesse violentamente contra um poste de iluminação. Ainda apertava a cabeça entre os dedos ao ser arremessado pelo para-brisa. Bateu o ombro direito no corpo de concreto do poste, fraturando a clavícula, porém nem a sentiu. A outra dor era muito maior. Caiu na calçada e foi deslizando e girando, esfolando cotovelos, rosto, peito e pernas. Estranhamente, enquanto a sua carne assava com a fricção no chão, o sofrimento e o zumbido diminuíram. Parou a vinte metros de onde ocorrera a colisão, o poste meio inclinado sobre o carro, um dos cabos de eletricidade rompido, e parte da rua sem iluminação. Não tinha forças para se levantar, nem queria. Tudo o que pensava então era que aquilo tinha acabado. Sim, tinha acabado. Um meio sorriso surgiu em seus lábios sangrando, um sorriso de alívio. Podia descansar, enfim. Fechou os olhos enquanto vinha um último pensamento.

Perdão, filha. Perdão.

ANONIMATO

(Trilha sonora - Black Sabbath, "Who are you"?)

Do anonimato
digo que é um lugar de liberdade
lugar de vozes sem boca
expressões sem rosto
palavras sem identidade
- a não ser aquela
criada por elas mesmas.

Bem-estar, proteção, comodidade.
Alegria de ver sem ser visto:
Aconchegante panopticon -
alegria e benção de invisibilidade.

Com o anonimato
consegue-se
essa conversa estranha
entre estranhos.
Conversa de
palavra pura
por palavra pura.
E, com efeito,
do anonimato
se segue a conversa
entre o anônimo
e o homônimo.

Mas, da conversa
entre o anônimo
e o homônimo,
quem leva vantagem?
O que se faz
quando não se conta
com heterônimo
ou pseudônimo?
O que se faz
quando se é, apenas,
homônimo
e irritantemente aprendiz?

O homônimo persiste
no seu único direito
- defeito -
de continuar errando
de uma palavra à outra
de uma tentativa à outra
em busca de consistência,
tentando conquistar
por prêmio
o direito de transformar
o homônimo
em assinatura.

O homônimo espera que,
do anonimato
e de sua liberdade
absoluta e
desproporcional,
vozes peçam mais,
vozes peçam menos,
vozes peçam retoques,
supressões,
níveis de qualidade.
Vozes peçam,
imperativamente,
o que querem.
Produto pronto,
mas não processo?

Pedem sucesso?
Com certeza,
não pedem errância.
Quando errar
é tudo o que pode
o homônimo.

Renato Gimenes

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

EMOÇÕES CRÔNICAS (de Gleice Portugal)

Trilha Sonora: Strange Days, The Doors.

na minha garganta, sinto um nó, como se fosse um enigma...
me instala com um ponto de interrogação...


A BANDA (de Juliana Calonico)

Trilha Sonora: A Banda, Chico Buarque.
((Presente para você Marcos))
Domingo na minha cidade era dia de apresentação da banda municipal no coreto da praça da igreja matriz. A banda era composta por funcionários da própria prefeitura.
Naquele tempo, os domingos ainda eram sagrados e após a celebração do padre Floriano, hoje monsenhor, as famílias ainda reuniam-se felizes para conversar e apreciar boa música.
Papai tocava clarinete nesta banda. Eu ainda era bem pequena quando me apaixonei por seus acordes. Acho que ainda estava na barriga da mamãe...
Num domingo depois da missa, o saquinho de pipocas e as cadeiras já todas ajeitadinhas na frente do coreto, os músicos já com instrumentos afinados e a postos, eis que surge o nosso Ranchinho.
Ele era uma daquelas figuras que toda cidade de interior tem.
Engravatado ia a missa todos os domingos, mas o que ele gostava mesmo de fazer era correr atrás das moças na Avenida Ruy Barbosa, abaixar as calças e mostrar o p...
Todas as moçoilas da cidade coravam ao vê-lo,
Mas naquele domingo, em frente ao coreto a brincadeira dele foi outra.
E assim que a banda começou sua apresentação, Ranchinho, calmamente na primeira fila, retirou de uma pequena sacola, um limão que pôs-se a descascar ali, bem na frente dos músicos. Quando aquele perfume inconfundível do limão exalou, não houve quem não sentisse uma salivação tremenda. A banda toda, alucinada, olhava fixamente para o “maldito”. E, todos,b oca cheia d’agua, pararam de tocar.
Os músicos então pediram desculpas e fizeram uma pausa.
Tiraram o ser dali e depois de um tempo retornaram para a apresentação.
Papai contou que depois da apresentação o coitado levara uma surra da guarda –municipal. E nunca mais ousou importuná-los.
Já as moças...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Trincheira

(por Marlon Vilhena)

Trilha Sonora: War Zone (Slayer).


A história foi mais (ou talvez um pouco menos) assim:

— Essa música que o Pedro tá tocando é do Cacazo.

— Marcos, essa música é do Chico Buarque, não do Cacazo.

— Tem certeza?

— Claro.

— Você tem uma grande chance de estar errado.

Fábio dá uma bufada, bebe mais um gole da cerveja, respira fundo, balança as mãos, se concentra na garçonete que passa ao lado.

— Eu ouvi essa música milhões de vezes, ela é do Chico.

— Não é, não.

Discussão e alvoroço. O músico ali na frente, violão na mão, fazendo o que devia fazer. Marcos traga o cigarro. Fábio olha para Marcos e bufa de novo. Marcos finge que não vê e encara a gordinha na mesa ao lado da pilastra.

— É do Cacazo.

— Marcos, não começa.

— Mas é.

A música termina, alguns aplausos ao redor do recinto do Boiúna. Fábio não aguenta e se levanta.

— Pedro! Pedro! Aqui, Pedro!

— Ei, para com isso.

— Pedro, essa música não é do Chico?

— É, sim.

— Não falei?! Não falei?!?

— Não precisa apontar o dedo pra mim.

— Você disse que era do Cacazo. Pedro, ele disse aqui que isso era do Cacazo, dá pra acreditar?

— Dá pra sentar?

— Não, senhor! A música é do Chico, ouviu? Do Chico!

Pedro, sem entender, dá um sorriso elegante.

— Ah, vocês estavam apostando, é?

— Para de apontar o dedo pra mim.

— Do Chico!

— O que eu te fiz? Por que toda essa cena?

— Do Chico!

Garrafas se estilhaçam no chão. O pânico adentra o bar, enquanto os dois se atracam feito guerreiros ferozes e prontos a morrer por uma causa nobre. A garçonete tenta intervir e leva uma bordoada. O atendente do balcão se aproxima e é arremessado contra a parede. Pedro abraça o violão e sai arrastando o amplificador porta afora, enquanto berra que era só uma música!, era só uma música!

Uma viatura é acionada, a polícia invade o local, que neste momento já se transformou em uma trincheira: cadeiras voando, urros medonhos e copos sendo usados como armas de destruição em massa.

Fábio, com um longo e feio talho no rosto, se debate insanamente enquanto é algemado com a cara amassada em cima do pequeno palco de apresentação. Marcos, com o olho quase totalmente fechado por causa de um hematoma horripilante, precisa ser contido por outros três oficiais. São carregados para a rua a socos e pontapés.

— Quieto aí, vagabundo!

— Não fui eu! Foi o Chico! Tudo culpa do Chico!

— Tu aí, é o Chico?

— Vai à merda!

— Então toma.

Distribuem tabefes à vontade sobre os dois. A multidão vaia e cospe em cima. Um bêbado pergunta se ainda dá tempo de beber mais uma dose.

Fábio ainda encontra fôlego no meio de tudo.

— É do Chico! Tu sabes! Tu sabes!

— É o caralho! É o caralho!

— Cala a boca, vagabundo!

— Vem calar!

— Não aponta mais o dedo pra mim!

— Tu sabes! Tu sabes!

— Dispersando! Dispersando!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

É PRECISO VOAR (de Ronaldo Fonseca)

Trilha Sonora: Equatorial, Lô Borges.

Deixemos que nossas asas cresçam
E a plumagem se erice ao vento
É tempo de enterrarmos a corrente
Darmos asas aos nossos sentimentos

O medo cai da bagagem
Quando o coração vira enchente
É tempo de voar
Ir de encontro ao transparente

É chegado o momento
De pousarmos um no outro
Num encaixe de liberdade e cimento

http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/2781399

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ALHO PSICOLÓGICO (de Marcos Salvatore)


A história não é nova, vocês já conhecem: um cara, uma garota, um lance que não rolou.
Mas antes que eu diga a verdade preciso confessar: uma puta chuva lá fora e eu só consigo pensar na moça que chorava, ontem à noite no Boiúna.

Como diria a Ângela Rô Rô: - "Tadinha, bem feito".


Take it easy, baby.

De qualquer forma... paciência.


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

ROTINA (de Haroldo Brandão)

Trilha Sonora: Rolling Stones

Era um dia comum e a vida seguia normalmente de forma caliginosa. Na penumbra cinzenta o homem sentia que devia mas... parava e ficava no 12º salto para o nada. Aos 50 lia-se na placa quase enferrujada: Arnaldo Bobão - Psicólogo. Ao se entrar estranhamente nada acontecia, apenas uma faísca de vida saltitava entre o céu e o inferno que, todos sabem, somos nós mesmos. O que fazer senão viver?

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

BAR AZUL (de Marcos Salvatore)

by Sara Saudkova

Bar Azul
Não sei se tenho medo
Do latrocida me esperando na esquina
Ou da mesa de amigos rindo ao lado

Enquanto eu estou na minha

Que o que eu escreva se imprima
Ou de lembrar de um amor do passado
Está tudo pronto para eu me confirmar
Eu errei, eu pequei, estive em todos os lugares
Eu paguei os pecados na mesa de um bar.

PRESENTE SURPRESA (de Marcos Salvatore)

by Edouard Joseph Dantan


Já faz um tempo que eu tento
Te encontrar, como quem não quer nada
Rodeando botecos ordinários, é a minha cara
Sempre à fim de um release, de um lance

Se eu forço a barra é porque
Você me desorienta
A psiquê anos setenta
Andrógina, anti heroína

Do menino calado
Atroz e atento


Observador dos detalhes mordazes
Voyer, ladrão de chaves incidentais
Colecionador afetivo à procura
De tantas fechaduras para espreitar
 
A sua



Então vem, que é você
Quem me encontra à própria sorte
Vem, que todos os seus lábios
São também um pouco a minha boca

Tira onda e faz drama
A mim, canalha, apartado e sem rumo
Me reinventa os assuntos: eu digo, eu assumo
Depois da novena, terça na veia e na cama rouca

Presente surpresa



Para depois nos abraçarmos algemados
Aos suores e odores elásticos
Às confissões perturbadoras de dores
Da gangorra do passado comprometedor

Para depois desaprender a zoar por aí
Na desordem da hora da gente ir dormir
Pouco importa o que é ganho, o que é conto,
O que eu escrevi e o que não
Sem pensar no que vinha a seguir

Eu estou agora
Eu sou aqui

Um caduceu de amor, de prazer e valor
Hiper-russo conjugados no futuro que agora eu te devo
Improvisado no conflito do meu pau
Com suas ancas macias

Sem alma, jogo limpo na mesa de som
Religião, sem muro, sem furo ou tristeza
Apenas tudo que é lindo à cada dia
Tudo salva de palmas



MOVEDIÇO (de Marcos Salvatore)


by Minjae Lee


Pensando bem, na realidade não parece, pode parecer
Não houve tempo, quer dizer, não de verdade

Parece um poema sem sentido e sem sina,
Parece, talvez seja
Já que caminham as palavras a serem ouvidas e lidas
Só para dar velocidade ao coração

Mas é por causa da lua lá fora,
carinhosa, semblante
Intriga que nos chama a atenção, que anda tão...
Amarelada pelo tempo

Pela polpa sua, areia doce de amante nua e crua
A rima não tem culpa do alter ego nativo
Por amarrarmos os nós da garganta
Com linha molhada de língua

Pra que digamos com os olhos,
Não com a voz que subjuga.
Um corpo minguante e carente de afeição
Deve mesmo ser batizado

Pelo sabor e o licor de uma vagina de puta



sábado, 5 de fevereiro de 2011

Poema XV, de Pablo Neruda

(por Marlon Vilhena)

Trilha Sonora: o vento ao final do dia no cais de Valparaíso.



Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas del alma mia,
emerges de las cosas, llena del alma mia.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolia.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simples como un anillo,
Eres como la noche, callada y constellada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Causo de expediente (V)

(por Marlon Vilhena)

Trilha Sonora: Mercedes-Benz (Janis Joplin).


Entrevistador: Quais suas expectativas e objetivos?

Entrevistada: Antes de mais nada, eu quero ser rica.

Entrevistador: Esse departamento já está com superlotação, pega uma senha. E por que você se decidiu pela área de química?

Entrevistada: No colégio eu sempre achava muito interessantes as aulas, especialmente as de química orgânica. Ficava horas dentro do laboratório querendo aprender tudo.

Entrevistador: Em outras palavras, você não é normal.

Entrevistada: ????

Entrevistador: Ainda bem.

DOMINGO (de Ronaldo Fonseca)

Trilha Sonora: Natureza

Na rua as pessoas sorriem
Brincam, jogam conversa fora
As janelas saúdam
Os corpos seminus
Molhados do banho de mar
Correm felizes as crianças
Em suas bicicletas
Os bêbados caem pela calçada
Tomam conta dos butecos

O sol me puxa
Pelas mangas da camisa
E avisa:

- É domingo.

Um presente de http://recantodasletras.uol.com.br/autores/ronaldofonseca