De quem é a culpa?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Deus não gosta de Palhaçada

[Colaboração de Diego Moraes, escritor de nova geração e de talento que inspira e transpira. Avante. E agradecemos por partilhar seu texto conosco.]

Trilha sonora: Bill Callahan - My Friend.


Cena 1

Viver é tirar sarro da cara de Deus. Matarazzo jogou água no rosto a fim de ver escorrer àquelas cores da maquiagem pelo ralo da pia: Vermelho, amarelo e branco, - como era lindo o redemoinho colorido que fazia descendo pelo cano:
- Quanto deu hoje?
- O suficiente pra nos mandarmos dessa porra de cidade. - Disse Aureatério, seu companheiro de vida. - Amanhã embarcamos bem cedo.
- Sabe o problema?
- Não.
- Tu és tragédia e assim fica foda... - Aureatério sabia disso mas resolveu não abrir a matraca.
- Sabe àquela piada do tomate centurião? - Matarazzo afrouxou a gravata borboleta. - Não conta... É horrível. Não sei como a platéia aguenta.


Cena 2

- Qual era teu sonho antes de conhecer-me? - Perguntou Matarazzo dentro do azul à deriva. - Sei que preferes estar pintado o dia todo. Há quantos homens dentro de ti? Às vezes imagino que é o Coringa derrotando o Batmam.
- A literatura foi um grande mar na minha vida e acabei me afogando...
- Publicaste algo antes de decepcionar-se?
- Paródias do Sol.
- O quê?
- A vida é isso... Paródias da loucura de Deus.

Cena 3
- Deve adorar fazer as pessoas rir! - Cutucou Aureatério.
- Rir é melhor que fazer chorar...

Cena 4

Era um tablado pequenininho e Aureatério mancava como Carlitos numa Manaus fumarenta. Ao seu lado Matarazzo pulava e gargalhava contando as mesmas alegrias.


Cena final

Foi chovendo mais pedras do que moedas na cara dos palhaços. O asfalto foi lambendo os respingos de sangue da solidão.

****
Diego moraes é Amazonense. Cursou Letras e Jornalismo conseguindo a façanha de não concluir nenhum dos cursos. publicou "Saltos ornamentais no escuro' (2008, sem editora) Reside no site http://ursocongelado.wordpress.com/

4 comentários:

  1. Palhaços amantes ? em todo caso a cena final é brilhante: "Foi chovendo mais pedras do que moedas na cara dos palhaços. O asfalto foi lambendo os respingos de sangue da solidão".

    Luiz carvalho.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pela leitura.

    Diego moraes

    ResponderExcluir
  3. Tu és tragédia e assim fica foda...

    se não conhecesse diria que é o texto de um maldito paulistano...sensacional!

    ResponderExcluir
  4. fico feliz por saber que tem escritores realmente bons nessa nova geração, capazes de produzir textos tão viscerais.

    ResponderExcluir