De quem é a culpa?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

CHUVA DA TARDE

(Trilha sonora: Jorge Benjor, "Chove chuva"; Celso Sim/Oswald de Andrade, "Chove Chuva Choverando"; special thanks to Marlon Vilhena)


Chove choro de nuvem prateada
que cobre com véu transparente
os prédios da cidade quente
ansiosa por ser lavada
de si mesma purificada
por cada gota, pingente.

Chove chuva, arreio da tarde
decerto para alguns irritante:
fazer das marquises abrigo,
pintar de lentidão o Forte
para que depois, no estio
se siga a vida, atordoante.

Chuva chove tua brincadeira
de derrubar frutas das árvores:
fugir de mangas cadentes
escorregar na grama dos parques,
desviar de galhos insolentes
Pular as poças derradeiras.

Chove chuva faca afiada
que divide em dois o dia:
encontrar a quem se anseia
antes ou depois da chuva?
Fazer relógio de água fluida
que do meu tempo se faz guia.

Chove chuva choverando
nos quintais e telhados amores,
ver um mimo se realizar:
derrubar dos galhos as flores
a formar tapetes de cores
para neles você andar.

(Renato Gimenes)

2 comentários:

  1. Renato, esse poema é muito a cara de Belém. E é de uma delicadeza imensa construída com as imagens em cada estrofe. Você convida as pessoas de fora a vir conhecer a cidade, e as pessoas de dentro a louvá-la.

    Tem também o fato de que foi escrito sugerindo uma estrutura fixa (rimas, métricas) que, na verdade, não se concretiza totalmente, deixando uma certa "imperfeição" sutil e bem própria na maneira como sentir e enxergar a famosa chuva da tarde. Entenda "imperfeição" como uma coisa boa e bonita aqui.

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  2. Sempre tive uma relação de amor e ódio com a chuva. Um amor e um ódio que sempre terminam na cama.

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