De quem é a culpa?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

UM TEMPO AMOROSO

(Trilha sonora: Joe Cocker)

Desde o advento
de mim e de ti
instituiu-se um tempo
que se imiscui
entre os segundos,
que preenche o vazio
entre o passado
e o presente,
que ultrapassa
as fábulas,
que refunda
o cotidiano.

Neste tempo
o relógio é vassalo
e os afazeres são mordomos
de prazeres soberanos:
amar, viver, narrar, rir,
construir, dançar, cantar,
comer, beber, aninhar.

Neste tempo
viver é um grito melodioso
um ruido harmonioso
um tumulto apaziguador:
sons de revolução pacífica
que depõe a tirania
do tédio.

Neste tempo
tudo o que existe
entre nós e o mundo
jamais se reduz ao mesmo:
tudo é sentido que conecta
esta imensa diversidade.

E, sendo tempo soberano
sua vontade faz de tudo
obra e vida:
de cada conversa, poema,
do sexo, usina;
de cada carinho, pincelada,
de cada sorriso, travessia.
De cada posição, escultura,
de cada gesto, fotografia,
de cada movimento, cinema,
de cada toque, caligrafia.
De cada memória, arquitetura,
Cada olhar, luz do dia,
De cada reencontro, narrativa
de nossa História, biografia.

(Renato Gimenes)

3 comentários:

  1. Esse poema está carregado de erotismo. E gentil.

    O senhor é um cavalheiro.

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  2. Poema com marcadores precisos do cotidiano. A antítese constituída sobretudo na terceira estrofe dá um toque especial ao texto. Sensível, delicado, enfim, poético.

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