De quem é a culpa?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

BEM SIMPLES (de Marcos Salvatore)

by Helmut Newton
A vida é simples: sono, fome, reprodução e fumo. Contrariando as medidas do termo “estar de boa”, afirmo solidamente que não estou por me ver, não estou por ser. Estou no campo de algodão em que me deito.
Nunca se tem cem por cento do que se quer – o amor chega, no máximo, a uns setenta por cento (isso se você for divertido e não se preocupar com dinheiro, xará).
Outra tarde, enquanto me balançava na rede (cueca furada), olhei para o apartamento em frente e uma jovem com os olhos de jasmim me notou – não sei bem se notou, mas, idealizo o seu leito com uma ereção bem “Expelliarmus!’.
Estava ouvindo John Lee Hooker, e pensando no Brasil – não me saia da cabeça a letra de um tecnobrega no estilo “Dj merda e côcô”.
Mas, como eu dizia antes de me interromper, a vida é ingênua quando se tem um caráter curioso, porém altruísta: um broto, uma balzaquiana e a primeira dama. A loba para se compartilhar o intelecto, as ereções duradouras, as boas lembranças e financiar as farras com a guria que, por sua vez, nos serve para exercitar a incompetência incestuosa do ego, as péssimas recordações e a falta de auto estima dionisíaca... Ah, já estava me esquecendo: a primeira dama é para dividir o sono, as contas, os absurdos e a cama.
A visão de peixe narcisista, frágil navegante, condenado irmão molhado. Penso: - “Se oferecesse o meu pau, ela, de bom grado, o aceitaria?”. Ou, então, me diria: - “E você? Quer meu soco?”, e me quebraria a cara em seguida. Ou não.
Um momento de encanto: poderia descer as escadas de três em três degraus, vinte andares. Dobraria à esquerda e subiria o Bloco A, de dois em dois degraus (não sou de ferro). Bateria na porta com a esperança saindo pela boca; ela abriria a porta, só de calcinha, os mamíferos de fora, fingiria “tipo assim” uma surpresa afetada, um quê de menina “nunca-fiz-isso” do segundo, terceiro ano de zona... (...) aí, comer buceta, cu, gozar na boca... depois do sexo as cobranças, as desculpas, as datas comemorativas, as taras, as incompreensões, as intolerâncias, os acúmulos de assuntos mal resolvidos, os desacatos involuntários e etc, etc e, é claro, etc...
Então, uma noite você sai sozinho e acaba esbarrando naqueles trinta por cento há muito pacientemente esquecidos. Aí, comer buceta, cu, gozar na boca...
A tristeza vai de elevador, dobra esquinas tarde da noite, tem seu próprio ecossistema de temperamentos exóticos. No porre somos todos irmãos – contanto que se finja saber o que se está sentindo ou dizendo. Em resumo: estou parando de beber, consequentemente, de fumar. A Trilha sonora todas as manhã tem sido “Meu Pobre Blues”, do Sergio Sampaio.
É preciso muito mais tato do que se imagina; tato e auto exemplo. Mas, quem tem tato e auto exemplo aos 34 anos? Eu, não.

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