De quem é a culpa?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

MÉNAGE ATROZ (de Marcos Salvatore)

"Ménage à trois", de Hernan Bas


Não vou perder tempo com detalhes inacabados. Não saberia falar deles, por isso, vou direto ao último capítulo.
“A escolha foi sua. Só queria te poupar”
Depois de meses de sexo alternativo, marcamos um encontro decisivo. A tão esperada noite. Antigamente a gente só vivia uma vez.
“O amor é puro entusiasmo e raiz”.
Ela me fez valorizar e saborear os lábios vaginais de cada pétala não desabrochada de sua flor. Sua crueldade sodomita em me cultivar com promessas, me aniquilava... me nutria.
“Deriva do ópio o que sinto quando te ouço dizer, distraída: - “Não””.
E o tempo aumentou minha obsessão por seu amor, também fez o que devia: apenas deixou-se passar, como um sinal da cruz.
“Resumo: minha loucura sou eu”.
Um dia fomos surpreendidos em casa, descobertos, confrontados, mas negamos, foi o que fizemos, sim. Negamos.
“Fizemos coisas questionáveis”.
Uma barata voadora interrompeu nossa tensão para pousar dentro da xícara de café, mas não morreu imediatamente, parecia nadar naquele morno suicídio involuntário. Ela então toma coragem emprestada do seu hímen intocado e o desafia.
“Sociedade anônima do tato”.
Ainda intacta, se ofereceu para um reconhecimento: noivo e amante presentes e ativos – uma arma dava a ele garantia de êxito: a ordem dos membros não altera o orgasmo, mas nesse caso alteraria.
“Inocentes, até que se sangre ao contrário”.
Uma vez assisti a um filme em que um morto-vivo, antes de devorar o cérebro de uma velhinha, disse: - “Dói estar morto”.
“Por favor, não me machuque agora”.
Empatamos, pois também acho que às vezes dói estar vivo – valeria mais que a inusitada lua que ri e chora seus minguantes e crescentes.
“Mato os dois, agora, e pego o que deveria ser meu”.
E bem na minha frente deflorou a futura esposa apressadamente. E enquanto a penetrava apontava a arma para mim.
“Não me importo, mas me culpo por não te culpar”.
Desvirginada pelo futuro marido, não o amante, a este dedicou as ancas. Seus olhos se abriam... fechavam... se abriam...
“Vem, que o único armado é você, meu amor”.
Se sentia inocente por amar aos dois. Entendeu ali seu futuro.
“Não sei me atrever, mas me atrevo, não o quanto”.
Assim: Tríplice colheita pagã - Duvido essa teia ao arranhar dois céus. Duvido que tece essa fonte. Duvido que tece. Duvido sua flor ao invadir seu portão dividido.
Foi tudo tão... feio.
“Mas sigo vivo”.

2 comentários:

  1. Grande texto, Marcos!

    Principalmente com relação à parte formal, na qual você intercala fragmentos de poema em prosa com versos que parecem saídos de diálogos.

    Pensando agora, vc entrou em uma outro ciclo criativo, intercalando imagens aos textos. Sugestão: que tal colocar a autoria das imagens? Elas funcionam, no Bornal, como as menções às trilhas sonoras funcionam no Bigode.

    Manda bala! Go Ahead!!!

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