De quem é a culpa?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

bomba h (de marcos salvatore)



“e o menino rebelde
oprimia a família”

não o contrário
tá entendido
mas... como poderia eu
tê-lo visto, se
atravessei calmamente as ruas
sem olhar para os lados?
na falta de ter o que fazer
percebia em mim mesmo
um olhar de longe, desconfiado
olhando pra mim
como se o que fora percebido
fosse um pedaço meu a declarar guerra
contra a cabeça, o tronco e os membros
e entre nós
restando apenas
pensamentos livres
a hora e a estação
ou, um esquecimento falsificado
(...)
difícil tocar qualquer instrumento
faz tanto tempo
com ele faz tanto tempo
ouço, eu sei
por aí, dizerem
dois
delta do rio habitual
resume meus canais e braços
e
ao longo das margens de lama
perdoa as deformidades recentes
desse temperamento pisciano, ainda... sempre
(...)
nada mais lindo que uma mulher dizendo “sim”
noto isso como uma lembrança do que sempre percebi
sem realmente perceber
acho que observamos as coisas que desejamos observar
e eu minto e digo a verdade
quando me convém sou um cretino total
como todo mundo
uma bomba h
um selvagem humorístico, nada trivial
um cruel, um apático insano
deslizando de braços cruzados pelas esquinas
da enfermidade
escrevendo textos feitos de títulos
histórias ridículas
anotações
em toda parte
meio ensurdecido porque pensa demais
como essa poesia completa
pronta para alguém
pra se perder por ela
(...)
uma meta:
única,
viver pra caralho!
depois reescrever alguns bebops dos primórdios
até imaginei
bastante sempre
sabe como é...
ao som de sentimentos audíveis
anteriores, posteriores
âncoras intensas
para corações imensos
de uma timidez agressiva
o resto você sabe
imaginei
a retidão... meu pau penetrando
não apenas “bocetas” e rabos
mas adquirindo vida própria
consciência de pernas e braços
todos os sentidos
dizendo: “eu te amo”
pra você, que é cega,
todos os dias
(...)
e me dá raiva
me deixar fazer isso
como um maníaco expressivo
como uma pergunta
estampada na cara
que cruza todos os mares
(...)
pra cada um é uma coisa
aqui eu não sei
faço questão de diferentes cortes
na carne
manipular a carne
tratar disso
faz toda a diferença
aí alguém ainda se vira e pergunta
ainda pergunta:
posso ajudar?
e eu digo, bocejando:
- não me faça perguntas difíceis.


Um comentário:

  1. As perguntas difíceis...tem de tudo aí? Pragmatismo? ceticismo? ou apenas cinismo no momento de ser a bomba h? li num fôlego. muito bom!
    A.P.

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