De quem é a culpa?

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sexta-feira, 10 de maio de 2013

CIGANOS EM VIAGEM (de Charles Baudelaire)



A tribo que prevê a sina dos viventes
Levantou arraiais hoje de madrugada;
Nos carros, as mulher', c'o a torva filharada
Às costas ou sugando os mamilos pendentes;

Ao lado dos carrões, na pedregosa estrada,
Vão os homens a pé, com armas reluzentes,
Erguendo para o céu uns olhos indolentes
Onde já fulgurou muita ilusão amada.

Na buraca onde está encurralado, o grilo,
Quando os sente passar, redobra o meigo trilo;
Cibela, com amor, traja um verde mais puro,

Faz da rocha um caudal, e um vergel do deserto,
Para assim receber esses p'ra quem 'stá aberto
O império familiar das trevas do futuro! 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

RECEITA DE VIVER (de José Carlos Oliveira)




Para viver bem é preciso chegar aos 30 anos com a satisfação de se ter permitido todas as loucuras imagináveis na juventude. E só freqüentar os amigos que suportam os nossos defeitos.

Recomenda-se também uma boa gargalhada, à sós, no momento de se erguer da cama: "Quanta bobagem tenho feito neste mundo! Quá, quá, quá!" A serenidade imperturbável conduz ao fanatismo, e este dá câncer.

Nenhuma preocupação burguesa ou pequeno-burguesa, como por exemplo o medo de perder o emprego ou os bens; nenhuma ambição material, fora as indispensáveis (casa, comida, roupa lavada), ou então que seja gratuita: juntar dinheiro para algum dia comprar um iate ou passar dois anos zanzando pela Europa.

Nunca ferir uma mulher a ponto de fazer-se odiado por ela. O homem inteligente é o que sabe transformar antigos amores em sólidas amizades.

Estar sempre em condições morais de perder tudo e começar tudo outra vez. Interessar-se por tudo, principalmente por aquilo que não nos diz respeito. Amar apenas uma mulher de cada vez. Dizer sempre a verdade, seja qual for e doa a quem doer. Conhecer um por um os nossos defeitos, curar-se dos que não são naturais e cultivar aqueles que mais nos agradam.

Evitar ao máximo o paletó e a gravata, os chatos que falam no ouvido, as mulheres que resolvem tudo pelo telefone, os bêbados que mudam de personalidade quando lúcidos, os vizinhos muito prestativos e todo papo do qual participem mais de três pessoas.

Longa caminhada solitária pelo menos uma vez por semana. Não discutir preços -- é melhor ir embora sem comprar. Não guardar ódios a ninguém. Dormir oito horas e, acordando, continuar na cama enquanto puder. Recusar-se terminantemente a beber uísque que não seja escocês legítimo, preferindo a cachaça como alternativa. (Isto vale apenas para quem gosta de beber e bebe freqüentemente, como é o caso do autor dessa receita. Neste caso, a aceitação de qualquer bebida é moralmente inquietante, pois atravessa a fronteira que separa o prazer do vício.)

Ser condescendente com o comportamento sexual dos outros. Tentar compreender cada pessoa, evitando julgá-la. Saber exatamente o momento em que os amigos gostariam de estar sós. Ter caráter bastante para reconhecer as qualidades positivas de um eventual inimigo. Treinar, como quem faz ginástica, para ser sinceramente modesto. Saber contar com irreverência histórias em que faz papel de bobo, e que tenham acontecido realmente.

Viver tão intensamente que possa dizer à morte, quando vier: "Já veio tarde."

quinta-feira, 25 de abril de 2013

SONETO DE DESPEDIDA (de Vinícius de Moraes)



Uma lua no céu apareceu
Cheia e branca; foi quando, emocionada
A mulher a meu lado estremeceu
E se entregou sem que eu dissesse nada.

Larguei-as pela jovem madrugada
Ambas cheias e brancas e sem véu
Perdida uma, a outra abandonada
Uma nua na terra, outra no céu.

Mas não partira delas; a mais louca
Apaixonou-me o pensamento; dei-o
Feliz - eu de amor pouco e vida pouca

Mas que tinha deixado em meu enleio
Um sorriso de carne em sua boca
Uma gota de leite no seu seio.



O AMOR ACABA - (trechos de Paulo Mendes Campos)

by a. r.


O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio: acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente ao meio do cigarro que ela atira e esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; ...o amor acaba mecanicamente, no  elevador, como se lhe faltasse energia, dentro de casa o amor pode acabar, quando a alma se habitua as províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; no sábado depois de três goles de gim à beira da piscina; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus; no inverno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brazília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York ... às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão; às vezes o amor acaba como se fosse melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o alcool; de manhã, de tarde, de noite; na primavera, no abuso do verão; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
 
PMC
(16 de maio de 1964)

terça-feira, 12 de março de 2013

CORTININHA DE FILÓ (de Haroldo Maranhão)



Para mim prima é mesmo que irmã, a gente respeita, mas Bela, sei lá!, tinha uns rompantes que até me assustavam. Naquela noite, por exemplo. Eu me embalava distraidíssimo na rede. Desde menino que durmo pouco, a Bela estava careca de saber e quando menos espero quem é vejo diante de mim? A Bela. A Bela dormia de pijama, minha tia achava camisão indecente, que pijama protege, a menina pode se mexer à vontade, frioleiras de velha. Pois a Bela me aparece apenasmente de blusa de pijama! Não entendi, francamente. e se não estivesse como estava acordado, poderia até imaginar que sonhava: a Bela ali de pijama decepado. Só para provocar como me provocou, que logo fiquei agitadíssimo, me virando e revirando na rede, e a Bela feita uma estátua, nem uma palavra dizia, à espera eu acho de atitude minha, mas cadê coragem?, que conforme disse prima é irmã, e de irmã não se olha coxa, não se olha bunda, irmã pode ficar pelada que a gente nem enxerga peitinho, cabelinho, nada. A danada da Bela sabia muitíssimo bem o que estava fazendo, que chegou um ponto que não suportei semelhante sofrimento, a dois metros da dona de um corpo fantástico. Me levantei da rede e me senti empurrado para os braços da Bela, que sem mais aquela me estrangulou que nem apuizeiro, e hoje penso que ela só esperava mesmo que me levantasse da rede, porque tudo o mais foi com ela, começando por me levar pelo escuro como guia de cego e sem nenhuma-nenhuma cerimônia deitou-se comigo na cama, que depois é que eu soube que os titios tinham saído, a gente estava só em casa e eu bestando na rede, quando bem podia estar há tempos naquele céu.
A única coisa que fiz mesmo foi tirar a blusa do pijama dela e mais nada, que ela cuidou do resto, professora ,mais que escolada, e para começar espetou-me com os peitinhos num abraço que quase me mata. A Bela tinha prática, um fogo tremendo. E começou a maior das confusões, eu nuínho também, que nem sabia o que era minha perna e perna da Bela, as mãos da Bela me amassando a ponto de deixar em carne viva o meu bilu-bilu, que parece que ela estava com raiva do meu bilu-bilu, mas não era raiva e sim uma aflição que deu de repente na diaba da minha prima, que queria fazer tudo ao mesmo tempo, mas tinha só duas mãos, pegava no meu troço, largava, pegava de novo, se esfregava e parava de se esfregar. Agora vejo que não era prática coisíssima nenhuma da Bela, mas uma comichão que se alastrava lá nela. De repente parou, a respiração cortada em miudinhos, dando a impressão de que tinha brincado a tarde toda de juju. E eu, lógico, parei também e ficamos feitos dois patetas, olhando o teto, quer dizer, a Bela é que olhava o teto, que eu não sabia se tínhamos terminado, se me vestia e ia embora para a rede. Nós estávamos colados, braços, coxas e pernas, de alto a baixo, parece que eu estava com uma febre de quarenta graus ou mais. Me sentia ótimo, ela podia olhar o teto o resto da vida e aí eu fechei os olhos e flutuava lele-leve, não sentia nada por baixo de mim, é como se estivesse voando, fora da cama, como se por baixo não houvesse coisa sólida, só ar. Foi quando a Bela virou-se para mim e começou a passar as unhas pela barriga me causando uma friagem e umas cócegas e pegou desta vez com uma delicadeza que até me espantou, o meu negócio inchadíssimo, parecendo que tinha sido picado por um enxame de cabas. Ela olhava para ele de muito perto, virava e revirava o cartuchinho de carne, um picolé quente, que não derretia. Percebi indecisão na Bela. E então falou a única palavra naquela noite, uma palavra só, palavra de três letras, que eu morro e não esqueço essa palavra:
“Vem!”
Ora, a Bela tinha cada uma! "Vem." Ir aonde se eu estava ali? Ela falou "vem" muito, muito delicadamente, me puxou e eu tudo deixava, deixei, fui deixando, a Bela pelo visto sabia muito bem o que estava querendo. “Vem." Ela me guiou que eu não sabia nem a décima parte da missa, às vezes se .impacientava com a minha santa burrice e para a Bela deve ter sido um trabalho dos seiscentos, mas ela insistia e insistia, acabou me botando de bruços por cima dela. Aí abriu as pernas e eu fiquei feito um bobo naquele espação sem saber o que fazer. A Bela fez tudo, tudo,.e gemia como se doesse e devia doer. Foi quando percebi que uma cortina de papel se rasgava e eu entrei por um corredorzinho ensopado. Aí deu nela um nervoso, sei lá o que foi!, ela me empurrou, me expulsando com raiva, eu mais que depressa saí, que não era nada besta de contrariar a Bela. Então percebi uma bruta mancha no lençol. O lençol tinha bem no centro um laguinho de sangue.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A VELHA E O VICIADO* (de Paulo Lins)



Bá preparava-se para deitar quando ouviu a voz cuidadosa de Manguinha entrando pela fresta da janela. Falou que já ia, depois de vê-lo no portão pela porta entreaberta. 
- Quantas vai, meu filho? 
- Eu só queria uma trouxa, só, mas aí: tô meio caído, morou? Se a senhora me vender, amanhã, antes do meio-dia, eu trago a grana.
- Fiado eu não vendo, não, mas se você quiser fumar um comigo é só entrar - disse a velha. 
Seu pensamento num segundo tramou sedução. Havia muito tempo só fazia sexo sozinha. Manguinha sentou-se no sofá encardido, observou a sala: são Cosme, Do Um e são Damião iluminados pela lamparina de azeite; uma cristaleira antiga com alguns copos coloridos; um jogo de chá; a mesinha de centro cheia de objetos domésticos; teias balançando ao mínimo vento. Bá preparou com capricho o cigarro de maconha do tamanho de um bonde, mirando endoidá-lo o suficiente para facilitar a sedução. Acenderam o baseado. A velha afirmou que aquele fumo era especial. Ofereceu uma dose de uísque ao viciado, disse-lhe que tinha uma rapinha de brizola para depois de fumarem. Manguinha adorou a idéia. Fumava rápido para poder consumir a cocaína tão cara e rara de ser encontrada.
A velha sugeriu que fossem para o seu quarto, alegou que poderia chegar uma de suas filhas, não queria que elas a vissem cheirando. Desenrolou as cortinas, derramou a droga num prato quente, apanhou uma lâmina de barbear em cima do guarda-roupa para trabalhar a cocaína. Enquanto transformava em pó as pedrinhas da brizola, dizia a Manguinha que não sabia o porquê de ter-lhe tanto afeto, que jamais tinha cheirado com esse ou aquele freguês, ele era o primeiro e único. Sempre que quisesse cheirar ou fumar era só dar um toque nela. 
- Por que tu não tira essa calça molhada? Bota ela atrás da geladeira. Seca rapidinho. 
- Podes crer! - concordou. 
Aproveitou para tirar a camisa. Dava corda ao jogo da velha. A pele branca de Manguinha era iluminada pela luz da lamparina do santo que atravessava a cortina de tecido ralo. Bá apanhou mais maconha. 
- Vamo fumar outro pra quando a gente cheirar ficar ligadão de uma vez? 
A velha pediu que Manguinha apertasse o baseado, fez dez carreiras de coca no prato. Enquanto fumava deixava a mão escorregar na perna do viciado, fez isso várias vezes. A mudez de Manguinha fez com que ela repousasse a mão definitivamente em sua coxa direita.
- Sua perna é cabeluda! - disse com voz macia e alongando o som da penúltima sílaba do predicativo. 
Manguinha manteve-se calado. A velha apertava os dedos, aproximou a mão para perto do pau duro do maconheiro, deixou que ela repousasse ali, o baseado ia pela metade. Num lance lento segurou o pênis por cima da cueca. 
- Hum... o lulu tá durinho! 
Apertava, friccionava para cima e para baixo. Manguinha agia como se tudo estivesse correndo normalmente. A velha sabia que ele tinha energia para arrepiá-la com vontade. "A vida é muito boa", pensou quando fez desabrochar de dentro das garras da cueca o caralho do viciado. Abocanhou-o no primeiro segundo. Manguinha sentiu nojo no começo, mas o apetite da velha o fez gozar em pouco tempo. Ao se recuperar, pediu-lhe que fizesse novamente. Esqueceram a cocaína no prato, o baseado no cinzeiro, a chuva no telhado. Carcou fundo na velha. O maconheiro, não sabia por quê, se lembrava de sua mãe, da namorada, dos amigos... Tentou parar com aquilo, mas não conseguiu, sentia prazer de verdade em encenar aquele ato.
Aos poucos foi ficando ali como se estivesse perdidamente apaixonado. 
Bá se esparramava nos quatro cantos da cama, nem suas filhas, que eram novas, não tinham varizes, peito caído, possuíam dentes, tinham conseguido um jovem tão bonito. Quem sabe um dia poderia sair com ele abraçada pela rua, apresentá-lo às amigas como seu marido, mas não, era sonhar alto. Se continuasse assim estaria bom demais. Atingiu o orgasmo várias vezes. Quando sentia que o viciado ia gozar, mesmo sabendo que ele se recuperava na rapidez dos seus dezoito anos para mandar ver de novo, diminuía os movimentos para que ele ficasse o maior tempo possível em cima dela. Quando Manguinha gozava, Sebastiana abocanhava-lhe o pau com apetite. Era feliz.

*O título não pertence a obra; história extraída do livro "Cidade de Deus". Espero que este trecho estimule a leitura do livro.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

À MANEIRA DOS CÃES ( de A. N. Afanassiev)



Num certo país, num certo reino, vivia um grão-senhor: ele tinha uma filha muito bonita. Um dia, ela passeava acompanhada de um lacaio, e este pensou:
- Que bela flor! Não há nada no mundo que eu deseje mais do que ter o prazer de fodê-la, ainda que uma vez apenas: se assim for, nem a morte me assustará mais!
Pensou, pensou e, sem sentir, disse em voz baixa:
- Ah, bela senhorita! Se eu ao menos lhe pudesse saudar à maneira dos cães!
A bela jovem ouviu estas últimas palavras. E assim que voltou para casa, mandou chamar o lacaio, ao anoitecer.
- Repita, seu cretino! – disse-lhe ela. – O que você disse quando eu estava passeando!
- Perdão, senhorita! Eu disse tal e tal coisa.
- Pois bem, para você aprender, comece agora mesmo a imitar um cão; caso contrário. Conto tudo ao meu pai.
E a jovem levantou a saia, pôs-se de quatro, o traseiro ao ar livre, e disse ao lacaio:
- Abaixe-se e cheire, como fazem os cães!
Ele ficou de quatro e pôs-se a cheirar.
- E agora, lamba como lambem os cães!
Ele foi lambendo uma, duas, três vezes.
- E agora comece a correr à minha volta!
Ele pôs-se a correr em volta da garota. Deu dez voltas e recomeçou a cheirá-la e lambê-la. Fazer o quê? O pobre lacaio estava exausto, mas continuava a cheirá-la; cuspia, mas continuava a lambê-la.
- Pois bem, por hoje é só – disse a jovem. – Vá dormir e volte aqui amanhã à noite.
Na noite do dia seguinte, a jovem mandou chamar o lacaio:
- E por quê, seu patife, você não veio por iniciativa própria? Não posso ficar mandando te procurar toda noite. Cabe a você saber o que deve fazer!
E assm dizendo, ela levantou a saia, pôs-se de quatro e o lacaio começos a cheirar sua bunda e a lamber sua buceta. Dez vezes de novo, ele correu em volta dela, depois recomeços a cherar e a lamber.
A jovem se regalava todo esse tempo, mas acabou sentindo pena dele: acabou deitando-se na cama dele, levantou a saia de frente e consentiu que ele a fodesse uma vezinha só. O lacaio cumpriu sua tarefa e disse:
- Não faz mal. Precisei lambê-la toda, mas consegui o que eu queria!

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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O HOMEM QUE TEMIA VAGINAS* (de Marquês de Sade)



Um homem gordo de uns quarenta e cinco anos, baixo, parrudo, mas sadio e vigoroso. Como ainda não tinha visto um homem com gostos parecidos, meu primeiro reflexo, assim que fiquei com ele, foi o de levantar minhas saias até o umbigo. Um cão ao qual se mostra um bastão não faria cara mais feia: "Ei! Ventre de Deus, menina, virai essa boceta para lá, por favor". Enquanto isso, rebaixou minhas saias com mais pressa do que quando as levantara. “Essas putinhas”, continuou mau-humorado, “só tem boceta para nos mostrar! Por vossa causa, talvez eu não consiga esporrar esta noite... antes de conseguir tirar essa boceta infame da cabeça”. E, dizendo isto, virou-me e levantou metodicamente meu saiote por trás. Nessa postura, conduziu-me, sempre segurando minhas saias levantadas; e para ver os movimentos de minha bunda enquanto eu andava, mandou que me aproximasse da cama, sobre a qual me deitou de bruços. Examinou então meu traseiro com a mais escrupulosa atenção, sempre tapando com uma mão a vista de minha boceta que ele parecia temer mais que o fogo.


Finalmente, após me advertir para dissimular o quanto pudesse essa parte indigne (como disse), mexeu com as duas mãos por muito tempo e com lubricidade no meu traseiro. Ele o abria, o fechava, às vezes levava nele sua boca, e eu a senti até, uma vez ou duas, diretamente encostada no buraco; mas ele ainda não se tocava, nada indicava isso. Sentindo-se, no entanto, aparentemente pressionado, preparou-se para o desfecho de sua operação. “Deitai-vos no chão”, me disse, jogando nele algumas almofadas, “aqui, sim, assim... Com as pernas bem abertas, a bunda ligeiramente levantada e o buraco o mais aberto possível. Assim, ótimo!”, continuou vendo minha docilidade. E então, pegando um banquinho, ele o colocou entre minhas pernas e veio sentar em cima, de modo que seu pau, que agora sacara dos calções e sacudia, ficasse por assim dizer na altura do buraco que venerava. Então seus movimentos tornaram-se mais rápidos. Com uma mão ele se masturbava, com a outra, abria minhas nádegas, e alguns elogios temperados com muitos xingamentos compunham seu discurso: “Ah! santo Deus; que belas nádegas”, exclamava, “que buraco lindo, ah... como vou inundá-lo!” E cumpriu sua promessa. Senti-me encharcada; o libertino parecia aniquilado por seu êxtase. Como é verdade que o culto oferecido a esse templo sempre tem mas ardor do que aqueles que arde sobre o outro!

* História tirada dos Cento e Vinte Dias de Sodoma, com título meu.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

FODA-SE (de Millôr Fernandes)




                                                     
O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidadede FODA-SE que elafala. Existe algomais libertáriodo que o conceitode FODA-SE!?  O “foda-se” aumentaminha auto-estima e metorna uma pessoamelhor. Reorganiza as coisas, me liberta. Não quer sair comigo? EntãoFODA-SE!  Vai querer decidiresta merda sozinho mesmo? Então FODA-SE! O direitoao FODA-SE deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nascem por acaso. São recursos extremamenteválidos e criativospara prover nosso vocabulário de expressões quetraduzem com a maiorfidelidade nossosmais fortese genuínos sentimentos. É o povo fazendo sualínguaComoo Latim Vulgar, será esse PortuguêsVulgar quevingará plenamente umdia.

PRA CARALHO” por exemplo. Qual expressãotraduz melhor a idéiade quantidade do quePRA CARALHO”?, tende ao infinito, é quaseuma expressão matemática. A Via Láctea tem estrelas pracaralho, o Sol é quentepra caralho, o Universoé antigo pracaralho, eu gostode cerveja pracaralho, entende? No gênero do “Pra Caralho", masno caso, expressando a mais absoluta negação, esta o famosoNEM FODENDO”.

O “Não, nãonão!” e tampouco o nadaeficaz e sem nenhuma credibilidadeNão, absolutamentenão!” substituem o “NEM FODENDO” é  irretorquível, e liquida o assunto. Te liberta, com a consciênciatranqüila, paraoutras atividades de maior interesseem suavida. Aquelefilho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro parair surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo o definitivo  “Filhinho, presta atenção,  “NEM FODENDO' .

O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar coma turma numa boa e você fecha os olhose volta a curtiro CD do Lupicínio.

Por suavez, o “PORRANENHUMA” atendeu tão plenamente as situaçõesonde nossoego exigia não a definiçãode uma negação, mastambém o justoescárnio contradescarados blefes, que hojeé totalmente impossívelimaginar quepossam viver semele emnosso cotidianoprofissional. Comocomentar a bravatadaquele chefe idiotasenão comum “É PHD  PORRANENHUMA”, ou eleredigiu aquele relatóriosozinho PORRANENHUMA!. O “PORRA NENHUMA” como vocêspodem ver nosprovê sensações de incrívelbem estar interior. É comose estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos “Aspone, Chepone, Repone”, e mais recentementeo “Prepone”, presidente de PORRA NENHUMA.

outros palavrões igualmenteclássicos. Pense na sonoridade de um “PUTA-QUE-PARIU”, faladosassim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diantede uma  notícia irritante qualquer um“PUTA-QUE-O-PARIU!”, dito assim te coloca outra vezem seueixo. Seusneurônios têm o devidotempo e climapara se reorganizar e sacar a atitude que lhepermitirá dar ummerecido troco ouo safar de maioresdores de cabeça.

E o que dizerde nosso famoso“VAI TOMAR NO CU!”? E suamaravilhosa e reforçada derivação “VAI TOMAR NO OLHO DO SEU CU” ? Você imaginou o bem  quealguém faz a sipróprio e aos seusquando, passadoo limite suportável, se dirige ao canalhade seu interlocutore solta : Chega! “VAI TOMAR NO OLHODO SEU CU”.  Pronto, você retomou as rédeasde sua vidae sua auto-estima. Desabotoe a camisa e saia à rua, ventobatendo na face, olharfirme, cabeçaerguida, um deliciososorriso de vitóriae renovado amor-íntimo nos lábios. Arrasadora para uma situação queatingiu o grau máximoimaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, queuma vez proferida insere seu autor em todo um providencialcontexto interiorde alerta e autodefesa. Algo assimcomo quandovocê está dirigindo bêbado, sem documentosdo carro e semcarteira de habilitaçãoe ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando-o parar: O que você fala?
FODEU DE VEZ!

Liberdade, igualdade, fraternidade e  FODA-SE.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

EU SEI, MAS NÃO DEVIA (de Marina Colasanti)



Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.

E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.

E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.

Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
À contaminação da água do mar.
À lenta morte dos rios.

Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.

Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo
e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,
de tanto acostumar, se perde de si mesma.


domingo, 16 de setembro de 2012

ANJOS DA NOITE (de Wilson Barros)

 
Monólogo de Lola (Chiquinho Brandão)
 
"Eu não fiz nada, porra!
Eu não fiz nada!
Por que eu?
Porque eu sou veado?
Por que?
Porque eu me visto de mulher e acredito nisso?
Eu sou a fantasia barata de todos vocês.
E vocês?
Que me ignoram com essas caras de imbecis.
Seu bando de bunda-moles!
Passivos!
Mesmo com toda a promiscuidade vocês nunca deixaram de ser muito bem comportados.
Eu conheço o sonho de todos vocês seus veados, frouxos!
Suas esperanças são pobres.
Miseráveis!
Hipócritas!
Vocês gostariam mesmo era de serem mulherzinhas, maridinhos.
Se pudessem teriam um bando de filhinhos.
Uma fileira de adoráveis monstrinhos.
Mas pode esquecer essa merda toda!
Banheiros imundos,
Bancos traseiros de carros,
Sombras,
Sexo escroto,
Pelo meio,
O tesão sempre no lugar errado,
Quem?
Ninguém vai reagir não, né?
Burros!
Burros, passivos, escrotos.
Quê que vocês fizeram do Brasil?
O que vocês fizeram da sexualidade?
Que merda vocês fizeram da...
Que merda?"

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

HÁ LUGAR PARA DOIS (de Marquês de Sade)



Há Lugar para Dois

Uma belíssima burguesa da rua Saint-Honoré, de aproximadamente vinte e dois anos, gorduchinha e roliça, carnes as mais viçosas e apetitosas, todas as formas modelares ainda que um pouco cheias, e que acrescentava a tão fartos encantos presença de espírito, vivacidade, e gosto o mais aguçado por todos os prazeres que lhe proibiam as rigorosas leis do himeneu, decidira, havia quase um ano, arranjar dois ajudantes para seu marido que, sendo velho e feio, a ela não somente desagradava muito, como também cumpria mal, se não raramente, os deveres que, talvez, com um pouco mais de desempenho, poderiam acalmar a exigente Dolmène - assim se chamava nossa bela burguesa. Nada mais bem combinado do que os encontros marcados com esses dois amantes: Des-Roues, jovem militar, ficava normalmente das quatro às cinco horas da tarde e das cinco e meia às sete chegava Dolbreuse, jovem negociante com o rosto mais bonito que se pode ver. Era impossível fixar outros momentos; eram os únicos em que a Sra. Dolmène estava tranqüila: de manhã, era preciso estar na loja e, à tarde, também tinha de aparecer por lá algumas vezes, ou então o marido voltava, e deviam falar de seus negócios.


Por sinal, a Sra. Dolmène havia confidenciado a uma de suas amigas que ela gostava muito que os momentos de prazer se sucedessem assim muito próximos um do outro: a chama da imaginação não se apagava, ela assegurava; desse modo, nada mais temo do que passar de um prazer a outro; não era difícil retomar a ação, pois a Sra. Dolmène era uma criatura encantadora que calculava ao máximo todas as sensações do amor; pouquíssimas mulheres conheciam-nas como ela própria e, em virtude dos seus talentos, reconhecera que, depois de muito meditar, dois amantes valiam muito mais do que um; com respeito à reputação, era quase a mesma coisa, um encobria o outro; poderiam se equivocar, poderia ser sempre o mesmo a entrar e sair várias vezes durante o dia, e com relação ao prazer, que diferença! A Sra. Dolmène, que temia em particular a gravidez, bem segura de que seu marido jamais com ela cometeria a loucura de lhe arruinar a cintura, havia igualmente imaginado que, com dois amantes, havia muito menos risco, quanto ao que temia, do que com um, porque, dizia ela, na condição,de excelente anatomista, dois frutos se destruíam mutuamente.
Certo dia a ordem fixada nos encontros veio a se alterar, e nossos dois amantes, que nunca se tinham visto, conheceram-se de maneira engraçada, conforme mostraremos. Des-Roues foi o primeiro, mas chegara muito tarde, e como se o diabo tivesse se intrometido, Dolbreuse, que era o segundo, chegou um pouco mais cedo.
O leitor inteligente percebe de imediato que, da combinação desses dois pequenos erros, deveria acontecer, infelizmente, um encontro infalível: e assim sucedeu. Porém, mencionaremos como isso se deu e, se possível, ocupemo-nos desse assunto com toda decência e moderação que tal assunto já por si muito licencioso, exige.
Por obra de um capricho bastante bizarro - mas tão comum entre os homens - nosso jovem militar, cansado do papel de amante, quis, por uns momentos, representar o da amante; em lugar de ser amorosamente abraçado por sua divindade, quis, por sua vez, abraçá-la: em resumo, o que está embaixo, coloca-o em cima, e, por essa inversão de posição, inclinada sobre o altar onde normalmente se oferecia o sacrifício, era Sra. Dolmène que, nua como a Vênus calipígia, e encontrando-se estendida sobre seu amante, apresentava, diante da porta do quarto onde se celebravam os mistérios, o que os gregos adoravam com devoção na estátua que acabamos de mencionar, essa parte mui bela que, em suma - sem sair à procura de exemplos tão remotos - encontra tantos adoradores em Paris. Tal era a atitude quando Dolbreuse, acostumado a entrar sem dificuldade, chega cantarolando, e vê por um ângulo o que uma mulher verdadeiramente honesta não deve, segundo dizem, jamais mostrar.
O que teria causado grande prazer a muitas pessoas fez com que Dolbreuse recuasse.
- O que vejo? - exclamou -... Traidora... é isso que me reservas?
A Sra. Dolmène que, naquele momento, se encontrava numa dessas crises em que uma mulher age infinitamente melhor do que raciocina, resolve mostrar-se audaciosa:
- Que diabo tens tu, - diz ela ao segundo Adônis - sem deixar de se entregar ao outro - não vejo nisso nada que te cause muito pesar; não nos perturbes, meu amigo, e contenta-te com o que te resta; como bem podes notar, há lugar para dois.
Dolbreuse, não conseguindo deixar de rir-se do sangue-frio de sua amante, pensou que o mais simples era seguir o conselho dela, não se fez de rogado, e dizem que os três lucraram com isso.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

UM TREM PARA AS ESTRELAS (DE CACÁ DIEGUES)




DREME - Tá ruim, Brother!

VINA - Segura Dreme, segura! Droga , droga de vida Dreme, que merda!

DREME - Para de reclamá, pô. Cê só vive reclamando. Tu qué sabê duma coisa, tu é chato à beça, xará. Só sabe reclamá. Vai vê que foi por isso que a Nicinha se mandou. (...) Vina, me ajuda Brother, fala comigo, diz qualqué besteira.

VINA – Dreme, sacanagem, faz um esforço seu merda. Pára de sangrá. (...) Nova York, lembra, confete de luz?

DREME - Bem que esse trem podia sê um avião, um avião não, um foguete, um foguete que tivesse levando a gente pras estrelas, like a dream.

AUDREY HEPBURN


 



A atriz Audrey Hepburn escreveu 10 dicas de beleza incríveis quando pediram para que revelasse seus segredos:


 

  1. Para ter lábios atraentes, diga palavras doces.
  2. Para ter olhos belos, procure ver o lado bom das pessoas.
  3. Para ter um corpo esguio, divida sua comida com os famintos.
  4. Para ter cabelos bonitos, deixe uma criança passar seus dedos por eles pelo menos uma vez por dia.
  5. Para ter boa postura, caminhe com a certeza de que nunca andará sozinho.
  6. Pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas; jamais jogue alguém fora.
  7. Lembre-se que, se alguma vez precisar de uma mão amiga, você a encontrará no final do seu braço. Ao ficarmos mais velhos, descobrimos porque temos duas mãos: uma é para ajudar a nós mesmos, a outra é para ajudar o próximo.
  8. A beleza de uma mulher não está nas roupas que ela carrega, ou na forma como penteia o cabelo. A beleza de uma mulher deve ser vista nos seus olhos, porque esta é a porta para seu coração, o lugar onde o amor reside.
  9. A beleza de uma mulher não está na expressão facial, mas a verdadeira beleza de uma mulher está refletida em sua alma. Está no carinho que ela amorosamente dá, na paixão que ela demonstra.
  10. A beleza de uma mulher cresce com o passar dos anos.