(por Marlon Vilhena)
Trilha Sonora: Cálice (Chico Buarque)
Diga que sim, capitão.
Senhor, sim, senhor.
Nagasaki e Hiroshima, genocídio pela paz mundial. Veja só, a paz mundial. Sopro de deus a varrer certezas para baixo da miséria humana.
Ghandi da Índia e de Nobel, Mahatma de bondade e de religião, estralhaçado por ideias de cadaverina
trinitrotolueno
verdade em fedentina
Um clique e seja feita a vossa vontade, amém.
Clique.
Senhor, sim, senhor.
Guevara de ideologias, Che de revoluções, soldado da nova ordem. Pega da tua arma para fazer o bem, elevar Fidel e fazer o bem, sangrar e fazer sangrar e fazer o bem, torturar e sequestrar e fazer o bem. Guerrilhas, força e coragem, depois morte. Depois volta. Ressuscita em juventudes e camisetas rubras de ternura dura. Não a perdeste: ela é que se vendeu.
Enquanto isso, um tango argentino num cabaré argentino ao som de Perfidia, de Gardel argentino.
Alguém fala de flores e de canhões, e já a nova ordem ganhou novo apelido. DOI-CODI: deportação: estado de direito sem direitos: patriotismo engomadinho. Um violão quebrado na sarjeta, sob o vendaval que se aproxima dos arranha-céus e das prisões. Olhos vermelhos e cegos. Unhas extirpadas, dedos esmagados.
Pau-de-arara é quem manda nessa joça.
Fala.
Não falo.
Dá-lhe porrada.
Senhor, sim, senhor.
Diga que sim, subversivo.
Não.
Arranca-lhe a humanidade fora.
Senhor, sim, senhor.
Sopra-lhe a dignidade longe.
Senhor, sim, senhor.
Mais força, mais força.
Senhor, sim, senhor.
Lobo ou porco, tanto faz. É a mesma coisa.
É o mesmo filme.
É a mesma joça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário