Era uma vez há muito tempo, nos anos (favor não confundir) conhecidos como os anos 70, aqueles três, um que descendia de paraibano, outro que descendia de portugueses e o outro que tinha em suas veias sangue índio e português e nariz adunco, andavam pelas ruas da Cidade Velha com uma nuvem de fumaça sobre suas cabeças, era fácil identificá-los: era só seguir aquele fumacê aliás, na casa do que era cabeludo ao sair pela Rua Carlos Gomes o trem já fumegava, alcançando a Tamandaré. Quando adentravam o Colégio do Carmo tudo era só sorriso. Nas aulas de matemática do professor calango balado, ao ritmo de logaritmos, quase se cagavam de tanto dar risada, a sala olhava penalizada daqueles três idiotas. Na saída do Colégio a volta na loja de roupas de segunda mão na Tv. Leão XIII, vindas dos EUA era irresistível, os últimos lançamentos: casacos de inverno, casacos do exército (USArmy), jeans rasgados, botas de camurça com solado de pneu e outras peças originais para serem estreadas no cine-clube durante o audiovisual de Jesus Cristo Superstar. Como outros de nossa geração queríamos tudo ao mesmo tempo. A ditadura para os três foi uma tremenda risada em suas viagens levemente alucinadas ao som do vinil usado da Joaquim Távora. Já quase adultos embarcaram em uma heróica aventura rumo a Santarém, abastecidos com uma quarta do melhor chocolate dos trópicos providenciados por Dom Amaral ao som de Gênesis, Led Zeppelin, Queen e Lou Reed, dançaram tanto que por pouco não dançaram. Juntos estavam ainda na universidade oitentista e lá descobriram que as melhores matérias a estudar eram Beira do Rio I e II aliada a literatura beat.. Casaram, descasaram, moraram que nem hippies em comunidades alegres e tristes nos trópicos. Sob o signo de baco continuaram fumando seus cachimbos e cigarros , tudo muito ingênuo e descompromissado, voltaram a casar e então deu-se a diáspora, os paraísos artificiais tiveram que ser abandonados pela concretude da vida real, percalços: dívidas, filhos, contas, filhos, trabalho, trabalho, muito trabalho sem diversão faz de Jack um bobão. O século XXI trouxe os novos rebentos e um reencontro quase impossível pois a trip egóica era forte demais: todos haviam enlouquecido um pouco, cada um a seu modo, novas companhias, atividades, novos desafios, novas subversões. Suas lindas a tiracolo são testemunhas das três frases slogans usadas compulsivamente por uns e outro: “eu posso te arrasar..”, “no, no, no..”, “eu amo essa mulher”. Lá vão os três bacanas: um jornalista, um psicólogo e um professor , da aldeia campista à Pedreira passando pelo viaduto, na longa estrada da vida. Uma fotografia congelou no tempo estas figuras típicas do seu tempo.
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