nada há vários dias...
então fiz o que pensei ser verdade:
calcei as sandálias
e fui atrás do antigo percurso
revide brutal e inútil
à favor de algo parecido
com sair do lugar
apenas... deixar-me atrair
por uma esquina
depois outra
semelhante a notar
meio curioso
o andar de outro semelhante
outro humano
janelas num firmamento predial
calçadas
um oeste de longos cabelos
tempo de existência singular, alegórico
em que o uso das pernas
é a engrenagem rudimentar
de um fato corajoso e ingênuo:
“ir”
jamais tornar
apenas...
ir, arriscar
me faz lembrar que tenho umbigo para olhar
que o coração tem que bater
e que a lama que escorre do peito
é de suor e poeira
sou um mudo, um refratário
cada pessoa é outra cidade pra mim
até correntes de ar me fascinam
casas de madeira
vizinhas e tias
catadoras de lêndeas
música estrangeira
mas...
se a manhã continuar assim
sobre a luz, sobre mim
posso errar o caminho
e dar de cara com a idade
e com a perda de Deus
e o ganho de peso ocioso, pensativo
e lembrar que também já me perdi
e depois de perdido me lembrar
que já não vivo mais aqui
que me perdi enquanto esperava
e perdido estou
internado na largura
do outro lado da rua
árvores, anúncios e brigas
passadas amarguras
paro pra comprar um livro no sebo da esquina
uma chorada pra morrer nuns cinco contos
edição de bolso, excessiva
narrativa de foder com a alma
de não se arrepender
depois...
malas prontas
livres
delegacias
livres
palavras cruzadas
livres
anteontem
livre
muitas vezes
livre
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