Me foi dado escolher de direito
o que tirar e por, com efeito
do saco do Papai Noel.
Escolha difícil em princípio
posto que desde o início
continha omissão cruel.
Mas, se se escolhe em vista
do que se quer por partilha
a despeito de qual falha houver,
Segue aqui pequena lista
que dedico com todo o respeito
ao amigo, onde estiver:
Do saco do Papai Noel,
- bolsa medieval -,
Tiro comida aos pobres
Retiro moedas às putas
Retiro dotes às noivas
Tiro remédios às pestes
Me lembro de ti, São Nicolau!
Do saco do Papai Noel,
- Armazém de presentes de luz -,
Tiro a paciência de Jó
Tiro o Deus de Spinoza
Tiro a convicção de João Batista
Tiro a oração de São Francisco.
Deixo ali os pregos da cruz.
Do saco do Papai Noel,
- Espaço do tamanho do mundo -,
Tiro continentes de liberdade
Retiro mares de felicidade
Retiro povos e pontos-de-vista
Tiro horizontes de perspectivas.
Atiro a vulgaridade ao fundo.
Do saco do Papai Noel,
- abrigo quente e vermelho -,
Retiro o olhar da minha amada
Retiro o sorriso de minha filha
Retiro doces toques e sucessos
Tiro vasto desejo e alegria.
Deixo ali todo o nosso receio.
Do saco do Papai Noel,
- matéria para o pensamento -,
Retiro das galáxias o tempo
Retiro das folhas a cor verde
Retiro a revolução dos planetas
Tiro o pulsar das dobras da mente.
Largo buracos negros de ressentimento.
Do saco do Papai Noel
- a anti-caixa de Pandora -,
Tiro toda a Esperança
Tiro Cora Coralina,
Tiro poesia como presente
Retiro ato que não termina.
Recolho o ódio e as armas do Agora.
(Renato Gimenes)
Meu amigo, você precisa de um alaúde ou um cistre. Urgente!
ResponderExcluirBrilhante e diferente jogo de rimas do segundo e último verso de cada estrofe. Parabéns, meu amigo, está excelente!
ResponderExcluirum saco profundo, profundo...
ResponderExcluirBelissimo !!!
ResponderExcluir