[Colaboração de Diego Moraes, escritor de nova geração e de talento que inspira e transpira. Avante. E agradecemos por partilhar seu texto conosco.]
Trilha sonora: Bill Callahan - My Friend.
Cena 1
Viver é tirar sarro da cara de Deus. Matarazzo jogou água no rosto a fim de ver escorrer àquelas cores da maquiagem pelo ralo da pia: Vermelho, amarelo e branco, - como era lindo o redemoinho colorido que fazia descendo pelo cano:
- Quanto deu hoje?
- O suficiente pra nos mandarmos dessa porra de cidade. - Disse Aureatério, seu companheiro de vida. - Amanhã embarcamos bem cedo.
- Sabe o problema?
- Não.
- Tu és tragédia e assim fica foda... - Aureatério sabia disso mas resolveu não abrir a matraca.
- Sabe àquela piada do tomate centurião? - Matarazzo afrouxou a gravata borboleta. - Não conta... É horrível. Não sei como a platéia aguenta.
Cena 2
- Qual era teu sonho antes de conhecer-me? - Perguntou Matarazzo dentro do azul à deriva. - Sei que preferes estar pintado o dia todo. Há quantos homens dentro de ti? Às vezes imagino que é o Coringa derrotando o Batmam.
- A literatura foi um grande mar na minha vida e acabei me afogando...
- Publicaste algo antes de decepcionar-se?
- Paródias do Sol.
- O quê?
- A vida é isso... Paródias da loucura de Deus.
Cena 3
- Deve adorar fazer as pessoas rir! - Cutucou Aureatério.
- Rir é melhor que fazer chorar...
Cena 4
Era um tablado pequenininho e Aureatério mancava como Carlitos numa Manaus fumarenta. Ao seu lado Matarazzo pulava e gargalhava contando as mesmas alegrias.
Cena final
Foi chovendo mais pedras do que moedas na cara dos palhaços. O asfalto foi lambendo os respingos de sangue da solidão.
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Diego moraes é Amazonense. Cursou Letras e Jornalismo conseguindo a façanha de não concluir nenhum dos cursos. publicou "Saltos ornamentais no escuro' (2008, sem editora) Reside no site http://ursocongelado.wordpress.com/
Palhaços amantes ? em todo caso a cena final é brilhante: "Foi chovendo mais pedras do que moedas na cara dos palhaços. O asfalto foi lambendo os respingos de sangue da solidão".
ResponderExcluirLuiz carvalho.
Obrigado pela leitura.
ResponderExcluirDiego moraes
Tu és tragédia e assim fica foda...
ResponderExcluirse não conhecesse diria que é o texto de um maldito paulistano...sensacional!
fico feliz por saber que tem escritores realmente bons nessa nova geração, capazes de produzir textos tão viscerais.
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