(por Marlon Vilhena)
Trilha Sonora: Hurt (Nine Inch Nails, mas na versão tristíssima do Johnny Cash.
É o
dia, irmão.
É o
dia que começa minguado
levanta
cai
levanta
cai
e toda a realidade sufoca dentro de um
saco de lixo.
É
tudo sempre o mesmo filme em sépia
a
velha escola do respira-expira
com
uma garrafa de café extra forte à beira da cama
ou
quem sabe uma bala de hortelã
pra
fingir
pra
fingir que ainda têm jeito
aquelas cartas
aqueles beijos
aqueles caminhos
pra
fingir que ainda têm jeito mesmo
aquelas ligações não completadas
aquelas palavras borradas debaixo da
chuva
da vida esticada até se ouvir
um estalo perfeito
ou o suspiro no final de um
segundo.
Como
dizia a molecada da infância quando queria
roubar
doce na venda do velho no outro quarteirão
cheirar
calcinhas nos varais
arrancar
sangues e dentes nas peladas —
não
esquenta que a hora chega.
Com
lágrimas ou amanhã ou depois de amanhã, mas chega.
É.
Só
que esquenta sim, irmão
fica pelando, pode crer.
O
tempo é linear em quantas teorias calculadas
não
aqui dentro
e
aqui dentro é dia e noite
explosões
e fissuras temperadas no caos.
É o
diabo do agora que não bate à porta, irmão.
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