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by Edouard Boubat |
ou
QUEM NÃO GOSTA DE FINAIS FELIZES?
Trilha sonora: Today – Jeffersoon Airplane
- O quê?
- Eu falo para ouvir não para
gravar.
Fingi não ouvir a insinuação. Devia
estar sonhando. Estava bêbado de sono, em uma van com cheiro de peido velho de
mofo (deu), às três e meia da manhã, com a fome que somente as poucas moedas do
bolso poderiam piorar; estava ferrado. “Porra de música escrota”.
Um pouco do sonho me ensurdece
com você dizendo: - “Tu nunca me abraçaste na rua, como nos filmes”.
- “Nos filmes os personagens se
contentam com abraços por causa da bilheteria, Princesa”.
Mais uma vez consegui me
convencer que nada havia em encher a lata, de segunda para terça. E acreditei
que dormir bastaria. Meu alcoolismo faria aniversário de dez anos em breve,
muito em breve. E as ereções involuntárias de sua autoestima não serviam mais
como freio para o meu frenesi pecaminoso.
- “Tu não prestas pra nada”. E eu
não reagi, como sempre. Levantei e saí para beber. Fiz uma escolha. Precisava que ela me odiasse.
Passam das duas nesse setembro. E
os meses realmente passam. Aceitamos isso. De Belém até aqui só três ou quatro acidentes
fatais. E eu juro que preciso de um café. A tristeza tem sede e urgência.
Uma tia, ao lado, diz:
- Quase outro país, nessa porra!
- Fica fria, Tia, tá tudo em
cima, aí, não seja extrema.
No vidro embaçado pelo sereno da
madrugada formo o nome de alguém: Lil – quem é Lil? Gostoso de escrever depois
desse pé d’água.
A Tia: - “Nem te conheço chuva.
Fuleragem, caralho. Peiiii!! Peiiiii!”. E batia na lataria da van com uma delícia
que me deu inveja.
Ela põe a mão pra fora e a deixa
molhar: - “São tão indefesas, quase podem me machucar”.
- Quem, Tia?
- Quem o quê?
- O que a senhora disse, aí.
- Eu disse o quê?
Deixei pra lá. A moça ao lado
acorda. Olha pra mim. Quase digo: - “Estou sozinho se você e os seus peitinhos
de carne quiserem”.
Alguém fala pra Tia: - “Foi uma
medida provisória, Tia”.
- “Provisório é o meu xiri”.
Quando reajo aos ladrões
entrando armados, não resisto à reflexão: - “O Brasil é um país provisório Tia,
nós, não”.
Antes de levar meu tiro sinto a falta dela um pouco mais... depois cada vez menos... e menos... menos...